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A ideologia de ódio de Stephen Miller

O blog do Magal - Opinião, cultura, economia e Política




Foi de Stephen Miller a decisão de implantar a política de separação forçada de famílias que cruzavam a fronteira ilegalmente

Stephen Miller, conselheiro sênior do presidente Donald Trump (AP Photo/Andrew Harnik)
Stephen Miller, conselheiro sênior do presidente Donald Tr

Miller cultiva simultaneamente uma imagem pública de homem severo — difícil flagrar sua silhueta esguia sem terno e gravata — e a de polemista provocador. Nascido em família abastada da Califórnia, dedica-se desde a puberdade a se fazer notar pelo ativismo antiliberal. Deleitava-se em chocar e ofender as sensibilidades progressistas de seus colegas da exclusiva Santa Monica High School e da Duke University, onde se formou em ciência política.

Miller, de apenas 39 anos, é a matriz teórica da agenda supremacista adotada por Trump. Está na órbita do movimento Make America Great Again desde a eleição de 2016, quando mal tinha dobrado a curva dos 30 — primeiro como autor dos discursos de campanha de Trump, depois como idealizador obsessivo das políticas anti-imigração encampadas pelo chefe. Agora, em 2025, volta a assumir seu poder influenciador sem ocupar qualquer ministério ou cargo que exija confirmação pelo Senado. Será apenas “vice-chefe de políticas”, o que não quer dizer nada, mas, no seu caso, é tudo o que quer: acesso irrestrito e gabinete vizinho a Trump.
Segundo duas renomadas publicações (The New Yorker e The Atlantic) que se aventuraram a perfilar Miller, ele é obsessivo e vingativo, arrogante na voz monocórdia e dado a pitis quando contrariado. Ao final de uma reunião tensa, segundo relato de um depoente, Miller surpreendeu a todos com um último comentário:
— Eu não pretendia ser tão duro, mas essa questão é tudo o que me importa. Eu não tenho família. Eu não tenho nada além disso. Isso é a minha vida — disse então, referindo-se a sua obsessão com o tema da composição populacional dos Estados Unidos.
Vale ressaltar que foi de Stephen Miller a decisão de implantar a política de separação forçada de famílias que cruzavam a fronteira ilegalmente. Passou a exercer pressão máxima sobre o Departamento de Justiça para que os adultos ilegais fossem processados criminalmente. Foi assim que mais de 2.500 crianças (102 das quais menores de 5 anos) se viram apartadas de suas famílias em centros de detenção semelhantes a jaulas. Miller chegou a declarar ao New York Times que 90% da opinião pública apoiaria a medida. Felizmente, errou. Graças ao vazamento de uma gravação feita num dos centros improvisados, onde crianças choravam e chamavam pelos pais (e um guarda de fronteira reclamava com desdém: “Pronto, começou a orquestra!”), a opinião pública americana se voltou contra a medida. Trump engavetou a gritante desumanidade 48 horas após a gravação viralizar e culpou quem nada tinha a ver com a medida. Miller saiu ileso — ele sabe como poucos quando e como desaparecer, sem nunca sair de cena.


— Ele gosta de irritar a quem despreza e se deleita com o desdém alheio. Corteja a infâmia — descreve o jornalista McKay Coppins na Atlantic.
Quando Miller diz que a missão contra imigrantes é tudo o que tem na vida, que ele não tem família, talvez queira enterrar as origens de sua ascendência materna. Quem explica é seu tio neuropsicanalista, David Glosser, irmão de Miriam, mãe de Miller. Os irmãos Glosser foram criados por pais democratas rooseveltianos, como 70% ou 75% de judeus americanos daquela geração. Cresceram em meio a publicações sobre direitos civis, leituras republicanas e a consciência do acolhimento que seus pais haviam recebido nos Estados Unidos ao fugirem do nazismo. Em entrevista doída para o programa Frontline, Glosser assim define o sobrinho:
— As mesmas besteiras [que ele diz sobre os imigrantes hispânicos] diziam dos judeus, de nossa família quando viemos para este país. Diziam que roubaríamos seus empregos, que éramos rombudos, que éramos criminosos. Que formávamos grupos, não nos integrávamos, quando na verdade não podíamos comprar imóveis em certos bairros, não podíamos abrir determinados negócios, não podíamos cursar certas universidades (...). Particularmente no caso de Stephen, ou de qualquer judeu cuja família tenha sido forçada a emigrar, é quase como deletar seu banco de memória e substituí-la por outra (...). Penso que a força que move Trump e Stephen está em estimular medos e ansiedades coletivos para manipulação política, para conquistar e manter o poder. É ânsia de poder, ânsia de influência.
Ao pesquisar na internet por imagens de Miller, a colunista bateu no link, que, uma vez visto, nunca mais se conseguirá desver. A semelhança com Joseph Goebbels assusta.

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