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O coronel dos milicianos

O blog do Magal - Opinião, cultura, economia e Política


Mensagens descobertas pelo MP revelam acordos e elogios e expõem intimidade entre miliciano e oficial da PM: 'ídolo máximo' e 'líder'
Agente foi denunciado junto a 16 policiais militares, todos acusados de envolvimento com grupo paramilitar que age em Jacarepaguá.
Coronel Marcelo Malheiros (de camisa xadrez) e Ceta, em foto divulgada no Instagram do miliciano

Uma denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) contra 17 PMs acusados de envolvimento com a milícia de Jacarepaguá, na Zona Oeste da cidade, com agentes de segurança pública. As investigações levaram, na semana passada, a uma operação para cumprimento de 37 mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos suspeitos. E revelaram desde o pagamento aos policiais para que eles contivessem o avanço territorial de bandidos rivais, do Comando Vermelho (CV), até a intimidade com que um oficial da PM era tratado pelos paramilitares, chamado de “pai”, “ídolo máximo”, “irmão” e “líder”.
Trata-se do coronel Marcelo Moreira Malheiros, ao qual o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) dedicou um capítulo exclusivo na denúncia, destacando trechos de conversas entre o agente e o miliciano Cláudio Rodrigo Monteiro, o Ceta, preso em abril deste ano. Os diálogos, que ocorreram entre 2021 e 2022, apontam que Ceta presenteava o oficial em seu aniversário e fazia até declarações: “Te amo de verdade, cara”, afirmou em uma das ocasiões.


O documento sublinha ainda acordos, cobranças, elogios e apoio de Ceta ao coronel. À época, Malheiros era comandante do 2º Comando de Policiamento de Área (2º CPA), responsável pela integração das forças policiais de sete batalhões da capital. Em 23 de março de 2021, por exemplo, quando Malheiros foi exonerado do 2º CPA, Ceta enviou a ele uma mensagem em solidariedade: “Que isso, irmão! Covardia!”

Divulgação de montagem — Foto: Editoria de Arte
Divulgação de montagem — Foto: Editoria de Arte

Naquele período, Malheiros compartilhou uma foto em serviço com frases como “A covardia está com os dias contados!” E, segundo o MPRJ, chegou a pedir para Ceta “disparar” a mensagem para outras pessoas. Cinco dias depois, havia publicações a favor do coronel nas redes sociais, elogiando o trabalho dele e criticando a exoneração.

Améns e irritação

Já entre os acordos expostos pela denúncia, os promotores esmiúçam o que tinha objetivo de impedir a expansão territorial do CV na região. Quando Malheiros foi exonerado, uma das preocupações dos criminosos era a de que o novo comandante fosse “fechado” com a facção inimiga.

O relatório aponta que “uma das formas de exercício das funções do denunciado era no sentido de determinar que seus subordinados, policiais militares, ocupassem áreas de interesse da milícia para conter o avanço territorial dos grupos criminosos que exploram o tráfico de drogas, notadamente o Comando Vermelho”.

Aviso de invasão — Foto: Editoria de Arte
Aviso de invasão — Foto: Editoria de Arte

Em 17 de março de 2021, Ceta recebeu avisos do miliciano Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho, preso desde agosto daquele ano, sobre a invasão de traficantes do CV na Comunidade do Barão, na Praça Seca. As mensagens foram encaminhadas a Malheiros, de acordo com o Ministério Público, em tom de cobrança, com pedidos de viaturas e policiamento na região.

Quando o apoio da PM chegou, os milicianos comemoraram e trocaram um “Amém” nas mensagens. Macaquinho, então, orientou Ceta a perguntar a Malheiros até quanto os agentes ficariam no território, pois pediria aos demais criminosos para se recolherem: “A gente vai recuar para ninguém se machucar”. 

No dia seguinte, Ceta perguntou a Macaquinho em quais lugares a polícia deveria ficar, avisando que passaria as informações para Malheiros. Macaquinho, então, enviou uma lista com quatro localidades: Ladeirão, Rabo da Gata, Túnel e Rodo — relação essa que, depois, foi encaminhada para o oficial. O coronel, no entanto, “sumiu” por alguns dias, o que irritou os milicianos.

“Irmão, até agora nenhum polícia. Acho que só tem os polícia no Ladeirão, perto dos caras, mas falaram que não podem fazer nada”, reclamou Macaquinho. Ceta encaminhou a insatisfação para Malheiros e acrescentou um emoji de irritado. E explicou: “Mandei a carinha de (irritado) para ele se ligar legal”.

Trecho da denúncia — Foto: Editoria de Arte
Trecho da denúncia — Foto: Editoria de Arte

‘Lembrancinha’

Naquele mesmo ano de 2021, no dia 20 de março, a denúncia indica que o oficial havia ganhado de presente de aniversário, dado por Ceta, uma camisa de futebol. Já no ano seguinte, o miliciano pediu ao comparsa Wagner Evaristo da Silva Júnior, o Júnior Play, morto em setembro de 2023, dinheiro para outra “lembrancinha”. Na ocasião, segundo o MP, dedicou felicitações a Malheiros.

“Parabéns, meu irmão, felicidades, saúde, paz sempre. Te amo de verdade, cara! Meu ídolo máximo”. O coronel, de acordo com o documento, respondeu: “Obrigado pelo carinho de sempre comigo e pela lembrança. Deus sempre foi generoso comigo e me presenteou pessoas boas iguais a você na minha vida. Sucesso para todos nós, irmão”.

O GLOBO não conseguiu contato com a defesa de Malheiros. A Polícia Militar do Rio, por sua vez, afirmou que a Corregedoria Geral da Corporação participou diretamente da ação da semana passada e segue colaborando integralmente com os possíveis desdobramentos judiciais. “O comando da corporação ressalta que não compactua com qualquer cometimento de crimes por parte de seus entes, punindo com rigor os envolvidos quando constatados os fatos”, afirmou a PM.

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