Jair Bolsonaro posa com a equipe da Jovem Pan
Tenente coronel tinha contato direto com comentaristas e jornalistas da emissora, que recebeu R$ 18,8 milhões do governo Bolsonaro somente em publicidade oficial.
Além do desvio das joias, da minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres, do envolvimento de militares do governo em conversas sobre golpe de estado e das fraudes em cartões de vacinação, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), vai revelar detalhes da relação do ex-presidente e seu entorno com veÃculos de imprensa alinhados ao bolsonarismo. A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (14).
No acordo de delação premiada que culminou em sua soltura, homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, o militar prometeu destrinchar minúcias sobre a proximidade do ex-mandatário com a Jovem Pan e como, a mando do capitão, a emissora teria agido nos bastidores para combinar pautas e entrevistas favoráveis, como se fosse uma espécie de assessoria de imprensa do governo.
Com a Jovem Pan, Bolsonaro cedeu diversas entrevistas, especialmente dentro do programa Pânico, exibido entre 12h e 14h e comandado por EmÃlio Surita. Durante a campanha eleitoral, em agosto do ano passado, o então presidente foi pessoalmente à sede da empresa, na avenida Paulista, em São Paulo, e ficou por duas horas e meia conversando com o elenco do humorÃstico. Em setembro de 2022, ele foi ao Morning Show, matinal da mesma emissora.
A emissora de Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, era uma das principais vitrines de Jair Bolsonaro e teve um pedido do Ministério Público Federal (MPF) para a cassação da concessão pública por "alinhamento à campanha de desinformação que se instalou no paÃs ao longo de 2022 até o inÃcio deste ano, com veiculação sistemática, em sua programação, de conteúdos que atentaram contra o regime democrático”.
Nos quatro anos de Bolsonaro no poder (2019-2022), a rede de rádio e TV firmou contratos que somaram R$ 18,8 milhões, de acordo com informações públicas da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. São excluÃdos dos números a publicidade de bancos e gigantes estatais, como a Petrobras.
O valor colocou a Jovem Pan como a 12ª empresa com mais verbas de publicidade federal na gestão Bolsonaro. Sob Lula, há um único registro no sistema de divulgação de verbas federal em 2023, de R$ 2,4 mil, para uma rádio afiliada de Manaus (AM), para veiculação de campanha de combate à tuberculose.
Ainda segundo a reportagem de Gabriel Vaquer, Cid vai abordar a relação financeira com empresários, jornalistas e donos de órgãos de imprensa ligados à extrema-direita, e que teriam recebido financiamento para aumentarem sua estrutura em troca de defesa e divulgação de realizações do antigo governo federal. A defesa de Cid diz ter comprovações de pagamentos que teriam sido feitos e que irá apresentá-los na delação.
A Jovem Pan ainda não se pronunciou a respeito das denúncias.
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