O presidente Jair Bolsonaro disse na quarta-feira que já escolheu quem ocupará o posto de vice na chapa que disputará a reeleição em outubro. No entanto, ponderou que só divulgará o nome “na hora certa”, porque se anunciar agora “é só complicação e confusão”. Esse mistério tem impulsionado movimentações políticas em torno do Ministério da Defesa. O titular da pasta, o general da reserva Walter Braga Netto, é um dos principais cotados para estar ao lado do presidente na campanha. Caso isso se concretize, já despontam duas opções para ocupar a cadeira do militar: o general da reserva Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e o comandante da Marinha, almirante Garnier Santos.
Em mais de uma oportunidade, Bolsonaro já disse que 12 ministros deixarão seus cargos por causa das eleições deste ano. Nessa lista, segundo auxiliares do Palácio do Planalto, está Braga Netto, que conta com a confiança irrestrita do presidente. O chefe do Executivo crê que ter ao seu lado um militar com influência nas Forças Armadas reduz consideravelmente as chances de eventuais pedidos de impeachment prosperarem.
Integrantes do governo dizem que Braga Netto se entusiasmou com a hipótese e tem se articulado para se cacifar como vice. O ministro tem evitado falar sobre o assunto em público, mas reservadamente admite que está pronto para o chamado do presidente. Interlocutores do governo, porém, avaliam que o general só deixará o cargo se de fato for escolhido para vice. Braga Netto já avisou que não tem interesse em sair candidato a outro cargo.
Enquanto esteve no comando da Casa Civil, Braga Netto deu mostras de sua fidelidade e agradou a Bolsonaro por ter adotado uma postura discreta. O general da reserva assumiu a Defesa em abril do ano passado, após o presidente trocar os comandantes das Forças Armadas. Um mês depois, o ministro compareceu a uma manifestação em Brasília com críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em julho do ano passado, ele articulou a divulgação de uma nota assinada pelo Exército, pela Marinha e pela Aeronáutica rebatendo críticas feitas pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, contra os militares. Em 7 de setembro, sobrevoou uma manifestação antidemocrática que atacava ministros do STF.
Já no início deste ano, após um mal-estar com Bolsonaro, Braga Netto orientou o Comando do Exército a redigir uma nota explicando a diretriz que recomendava que militares se vacinassem antes do retorno ao trabalho presencial. Diante da repercussão, o comunicado foi suspenso.
Apesar de Bolsonaro confiar em Braga Netto e considerá-lo um perfil ideal, a ala política do governo tem resistências. Partidos da base do presidente, como PL, PP e Republicanos, não fizeram um convite de filiação ao militar. Em conversas reservadas, o grupo político que assessora o titular do Planalto afirma que as siglas não estão dispostas a fazer um gesto ao ministro da Defesa para não chancelá-lo como uma escolha das legendas. De todo modo, se houver um pedido de Bolsonaro em favor do general, um dos partidos pode ceder e abrigá-lo.
No entanto, o PP, do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem se articulado para indicar o vice da chapa, selando assim a aliança com o PL, partido de Bolsonaro. Entre os nomes cotados, está o da ministra Tereza Cristina, da Agricultura, que hoje está no DEM, mas negocia a sua filiação ao PP. A pessoas próximas, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, disse que a deputada licenciada é a candidata ideal, pois agrada a classe política, o empresariado e o eleitorado feminino, segmento no qual o presidente enfrenta uma alta rejeição.
Embora digam que a palavra final sobre o vice será exclusivamente de Bolsonaro, integrantes do comitê da campanha presidencial tentam convencê-lo que é mais prudente adiar a decisão e escolher um nome que possa atrair votos em parte do eleitorado em que o presidente precisa crescer nas pesquisas.
Dança das cadeiras
Em paralelo à movimentação pela vice, também há articulações para a eventual sucessão de Braga Netto na Defesa. Ramos, que já passou pela Secretaria de Governo, não esconde o desejo de voltar a ocupar um ministério com maior destaque, relatam integrantes do Planalto. A interlocutores, ele não refuta a ideia de substituir Braga Netto, com quem tem uma relação de proximidade. Já Garnier passou a ser apontado como uma alternativa por mostrar alinhamento irrestrito ao presidente, o que o difere dos comandantes do Exército e da Aeronáutica.
Procurado, Ramos, por meio de sua assessoria, informou que “está feliz onde está, mas também está à disposição do presidente para qualquer missão”. A assessoria do comandante da Marinha negou que o almirante esteja se movimentando pelo cargo. O ministro da Defesa não se manifestou.
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