BRASÍLIA — O senador Fabiano Contarato (Rede-AP), que é homossexual, pediu que a Polícia Legislativa do Senado apure se o empresário bolsonarista Otávio Fakhoury cometeu o crime de homofobia. No Twitter, Fakhoury usou um erro de grafia de Contarato, que usou a palavra "fragrancial" em vez de "flagrancial" para fazer um ataque homofóbico contra Contarato.
O pedido do senador foi aprovado pela CPI que determinou o envio do relato do senador para o Ministério Público. No Twitter, Contarato havia comentado o depoimento do ex-secretário de Comunicação do Planalto, Fabio Wajngarten, dizendo: "Fábio Wajngarten tem que sair preso da CPI .
Há estado fragrancial configurado! Cúmplice de Bolsonaro, ele mentiu e omitiu a verdade sobre a criminosa gestão que tem no Planalto o principal aliado do coronavírus!". 'O senhor deveria pedir desculpa a toda população LGBTQIA+', diz senador da CPI a empresário.
Na CPI, Contarato disse que sempre foi tratado com respeito, carinho, admiração e deferência por ele, não sofrendo discriminação. Afirmou ainda que não é fácil para ele se expor e expor sua família, mas isso era necessário. Disse também ter orgulho de sua família e de seu esposo.
— Pegou um Twitter meu, com erro de grafia, e falou isto. O senhor não é adolescente. A sua família não é melhor que a minha — disse Contarato, acrescentando: — O que leva o senhor, que tem filho, qual a imagem, quanto pai, quanto esposo, vai passar para seus filhos? Isso é obedecer o princípio da legalidade. Porque o Supremo Tribunal Federal, o mesmo que o senhor defende extinguir, criminalizou a homofobia comparando-o ao racismo.
Disse ainda:
— O senhor pode ter todo o dinheiro do mundo. Tenho minha vida modesta com muito orgulho, cuidando da minha família, meu esposo, meus dois filhos. Eu quero que eles tenham a certeza de que lutei, continuo lutando para diminuir essa desigualdade no Brasil. Eu aprendi que orientação sexual não define caráter, cor da pela não define caráter, poder aquisitivo não define caráter.
O senador exigiu que o depoente fizesse um pedido público de desculpa não só a ele:
— O senhor deveria pedir desculpa a toda população LGBTQIA+.
E acrescentou:
A mesma certidão de casamento que o senhor tem, eu também tenho — acrescentou o senador.
Fachoury pediu desculpas:
— Foi um comentário infeliz, em tom de brincadeira. Respeito a sua família como respeito a minha. Tenho amigos de todos os lados, de todas as orientações. Não tive a intenção de ofender. E se ofendi, e ofendi profundamente, peço desculpas. Não sou uma pessoa que discrimina nem raça, nem cor, nem orientação sexual. Não vejo problema nenhum em retratar, não insisto no erro. Umas das condições da pessoa cristão é reconhecer o erro e pedir perdão. E me retrato aqui diante de todos.
Contarato disse então que o pedido de desculpas não deveria ser dirigido apenas a ele, no que Fakhoury complementou:
— E a todos que se sentiram ofendidos.
Alguns senadores prestaram solidariedade a Contarato.
— Lamentável ler isso. Lamentável. E digo para o senhor que disse ter orgulho de ser brasileiro. Eu tenho vergonha de ter você como brasileiro. Senador Contarato, meus sentimentos. Conte comigo sempre na luta contra pessoas que agem com esse princípio baixo e vergonhoso — disse o governista Marcos do Val (Podemos-ES).
— Determino à secretaria (da CPI) que registre o depoimento de Fabiano Contarato, comunique o Ministério Público Federal para a eventual ocorrência de crime de homofobia do depoente — disse o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), de oposição.
— Essa prática ofende a todos — afirmou o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), que também é de oposição.
Presidente do PTB em São Paulo, Fakhoury, presta depoimento nesta quinta-feira à CPI da Covid, no Senado. Ele é apontado por integrantes da comissão como um dos principais financiadores de uma rede de disseminação de fake news e de apoio a atos antidemocráticos durante a pandemia.
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