A 13 meses da eleição presidencial, dirigentes dos principais partidos não têm clareza sobre qual espaço disputarão no eleitorado entre Lula e Bolsonaro. Presidentes de PSD, PSDB e DEM apostam em candidaturas próprias num cenário em que a única certeza é colocada sobre a presença de Lula no segundo turno.
Gilberto Kassab (PSD), Bruno Araújo (PSDB), Gleisi Hoffman (PT) e ACM Neto (DEM) participaram de um evento virtual com investidores promovido por um banco, nesta terça-feira, para debater o cenário para 2022. Com exceção da petista, nenhum deles crava qual será o nome que devem lançar no ano que vem.
O principal imbróglio está numa dupla concorrência pela candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, atualmente no DEM. Kassab diz confiar que conseguirá atraí-lo ao PSD para brigar pelo Planalto. Neto, por sua vez, tem um plano B caso perca a principal peça: o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta.
O presidente do PSD diz acreditar até que Bolsonaro poderá não estar no segundo turno da eleição. Para ele, os quase 600 mil mortos na pandemia e os números ruins na economia, com alta inflação e desemprego e PIB patinante, devem jogar um fardo nas costas de Bolsonaro do qual o presidente não terá como, segundo Kassab, se livrar a tempo do pleito.
— São circunstâncias difíceis de serem revertidas.
Acredito que no segundo turno possa estar o presidente Lula com a terceira via — declarou Kassab.
O ex-prefeito de São Paulo também afirmou não existir "nenhum problema" entre ele e Neto pela disputa pela candidatura de Pacheco. Como vem se posicionando nas últimas semanas, Kassab se recusou a responder se ficará com Lula num eventual turno contra Bolsonaro.
Araújo, por sua vez, não descarta o PSDB retirar o lançamento da cabeça de chapa para apoiar alguém com maiores chances de vitória em 2022. O partido passa por um processo de prévias internas para escolha do candidato presidencial, que deve ser definido somente em novembro.
Os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (PSDB) disputam a vaga.
— Claro que o escolhido de um processo tão vigoroso e forte como esse sai com muita força política, mas cabe a ele demonstrar que tem liderança política, pessoal, republicana, de fazer esse conjunto de forças entender que ele é o melhor nome, ou ter a humildade suficiente de entender que surgiu uma outra força política — disse Araújo.
Além de uma eventual candidatura de Pacheco, o DEM também coloca as fichas numa possível fusão com o PSL.
Neto negocia com Luciano Bivar, presidente da legenda, uma união que poderia transformar o novo partido no maior da Câmara — e, consequentemente, tentar abocanhar a maior fatia dos fundos partidário e eleitoral.
— Os próximos 15 dias serão decisivos, e vamos ter uma ideia se essa fusão irá adiante ou não — afirmou.
Impeachment
Enquanto eles esperam o avanço do calendário para definir o xadrez político ainda cheio de dúvidas, os dirigentes dividem uma certeza: não há clima hoje para impeachment de Jair Bolsonaro.
Para Kassab, Bolsonaro tinha uma base parlamentar sólida na Câmara até o discurso em tom golpista do 7 de Setembro, a partir do qual "iniciou-se rapidamente um movimento pelo impeachment". A carta escrita por Michel Temer e divulgada via Palácio do Planalto, em que colocava panos quentes na situação e manobrava um recuo nas declarações, no entanto, esfriou o clima. Segundo ele, "desapareceu o fato concreto".
Neto disse não acreditar "nem em golpe nem em impeachment", e que recebeu com "alívio" a carta do Planalto. Para Araújo, não há clima de impeachment porque o Centrão é base do governo (Arthur Lira e Ciro Nogueira, do PP, são respectivamente presidente da Câmara e ministro da Casa Civil). Já Hoffmann passou ao largo do assunto e preferiu focar na boa colocação de Lula nas pesquisas eleitorais para 2022.
Questionada sobre o projeto econômico de um eventual terceiro governo Lula, Hoffmann disse que "todos conhecem" o ex-presidente, e elogiou a responsabilidade fiscal do governo Lula. Ela defendeu mudanças no teto de gastos, que, diz, foi burlado diversas vezes na atual gestão, com orçamento secreto e orçamento paralelo, por exemplo.
Hoffmann apostou nas políticas públicas de renda para expansão do mercado consumidor no Brasil como forma de reaquecer a economia:
— O que o presidente Lula sempre diz é: o que eu posso oferecer a vocês, empresários e investidores, é um grande mercado consumidor, para botar renda na mão da nossa gente.
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