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Reunião Moro e Huck incomodou governo e oposição

Reunião Moro e Huck incomodou  governo e oposição
O movimento do trio para entrar na corrida presidencial de 2022 como alternativa de centro gerou incômodo na gestão de Bolsonaro, que pretende buscar a reeleição, e reações no meio político. Apresentador encontra-se com Rodrigo Maia, crítico do ex-juiz da Lava-Jato.
A possibilidade de uma chapa formada pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro e pelo apresentador Luciano Huck causou alvoroço no governo e no meio político nacional. A dois anos das eleições presidenciais, os dois deram a largada para a corrida ao Planalto, num encontro em Curitiba. O ex-juiz da Lava-Jato também se articula com outros possíveis apoiadores, como Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde, e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Até mesmo o vice-presidente Hamilton Mourão aparece nas pretensões do ex-magistrado.
O encontro entre Moro e Huck estava sendo planejado havia meses e ocorreu no mês passado. O apresentador de tevê aparece como principal opção para vice em uma chapa, em razão do poder de influência e do nível de engajamento político que vem ganhando desde 2018, quando pensou em se lançar à presidência. A intenção do ex-ministro da Justiça do governo é criar uma alternativa de centro ao presidente Jair Bolsonaro, representante da direita, e à esquerda, conduzida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus apoiadores.

As negociações seguem a pleno vapor e, ontem, Huck almoçou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nem o comunicador nem Sergio Moro têm disputas de cargos eletivos no currículo. O deputado seria uma peça-chave para ampliar a articulação e conseguir apoio no Congresso e nos estados. No Planalto, os olhares se voltam para integrantes do governo que podem mudar de lado nos próximos meses e passar a apoiar Moro, que ainda conta com a simpatia de muitos integrantes do Executivo.


O incômodo com a provável chapa ficou visível no governo. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, usou o Twitter para se manifestar sobre a eventual parceria. “Não basta trair no governo, trair na saída, tem de continuar flertando com a traição. É um triplo mortal carpado”, escreveu. Por ora, no entanto, a recomendação é que os integrantes do Executivo evitem se pronunciar sobre o assunto, para não dar mais projeção ao ex-ministro.

Representantes da esquerda também comentaram o tema. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disparou contra Moro. “A fraude que campeia no Brasil não cede espaço. No dia em que Doria, Huck e Moro forem de centro, eu sou de ultra-esquerda, o que eu nunca fui”, afirmou, em um evento de campanha, num galpão na zona oeste de São Paulo. Ele disse, ainda, que o bolsonarismo e o PT vêm perdendo força e isso deve ficar evidenciado nas eleições municipais deste ano. “Está muito cedo ainda, falta uma semana, mas parece que o bolsonarismo boçal e o lulopetismo corrompido vão levar uma grande surra no Brasil inteiro a preço de hoje”, ressaltou. “Isso quer dizer que o eleitorado brasileiro, em sua esmagadora maioria, como segunda razão do seu voto, está banindo esses dois extremos. O primeiro motivo é a água, é a luz, é o telefone, moradia, ônibus. A segunda é um posicionamento político.”

Do centro à direita

Moro afirma ser um político de centro, o que seria uma alternativa a Bolsonaro e aos candidatos de esquerda. No entanto, especialistas divergem sobre o alinhamento do ex-ministro, principalmente por ele ter aceitado integrar o atual governo por mais de um ano. O professor Ricardo Caichiolo, cientista político do Ibmec de Brasília, acredita que a formação da chapa deve se concretizar, mesmo que ainda faltem dois anos para as eleições. “As últimas pesquisas apontam Moro com 10% a 11% das intenções de voto. Mandetta tem um percentual bem razoável, além do Doria, que tem uma pegada mais ao centro quando se compara com a direita, ou a extrema direita, representada pelo Bolsonaro. O que deve começar, agora, é a articulação para saber quem encabeça a chapa. Pode ser o Moro, Mandetta ou Doria”, disse.

O cientista político Leonardo Queiroz Leite afirmou que Moro pode ser avaliado de acordo com a conduta que teve no Ministério da Justiça. “Sergio Moro ainda não tem uma linha política clara, mas tende a ficar, em primeiro momento, como centro, ou centrodireita. Mas, hoje, ele precisa fazer acenos para seus possíveis parceiros. Ele deve testar o discurso e ver onde deve ter resistência. Deve ter um estilo mais conciliador, como o Rodrigo Maia, no DEM”, frisou.

“Zero” chance de apoio

Antes do encontro, Rodrigo Maia afirmou que a chance “é zero” de dar respaldo a uma chapa que tenha Moro. “Não posso apoiar uma chapa integrada por alguém de extrema-direita”, justificou, em entrevista à colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo. “Moro já defendeu ideias e divide a parte do eleitorado de extrema-direita com Bolsonaro. Por isso, ele cai nas pesquisas quando disputa com o presidente”, frisou. Em outubro, o jornal O Globo revelou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) reabriu uma investigação sobre supostos pagamentos da empreiteira OAS a Maia. O inquérito — no âmbito da Lava-Jato, que já teve Moro como juiz — corre em sigilo e investiga supostos repasses de caixa dois da OAS ao deputado, com base na delação premiada de funcionários do setor de contabilidade paralela da empreiteira.

 




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