Mensagens de texto encontradas num celular apreendido na casa de um dos acusados de comandar a milícia que domina Itaboraí, na Região
Metropolitana do Rio, revelam que o paramilitar teve um encontro com um delegado da Polícia Civil para colher informações sobre investigações contra o bando. Num diálogo, o suspeito, que está foragido, avisa para a namorada que está “bebendo” com o policial: “Nem acredito que fiz amizade com o delegado”, escreveu.
O aparelho foi encontrado por agentes da Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói na casa do ex-PM Alexandre Loback Geminiani, apontado como chefe da milícia, durante uma operação que prendeu mais de 40 milicianos que agiam em Itaboraí, em 4 de julho do ano passado. No dia da operação, Loback pulou do 4º andar do prédio onde morava e conseguiu fugir da polícia.
O ex-PM, no entanto, deixou para trás o celular de sua namorada, que foi periciado pelo Ministério Público do Rio. Numa conversa em 19 de junho — duas semanas antes da operação —, Loback avisou à companheira que estava indo encontrar um comparsa após receber vazamentos da investigação. Ele queria saber se seu nome havia sido citado em delações premiadas feitas por integrantes do bando. Horas depois, após ela perguntar onde ele estava, o ex-PM respondeu: “Saquarema (na Região dos Lagos). O delegado da DP tá aqui também”.
‘Da parte dele, não tem nada contra a gente’
O diálogo, obtido pelo EXTRA, dura o dia inteiro. O ex-PM vai atualizando a namorada sobre o encontro. “Tô aqui ainda, conversando com o delegado. Estamos bebendo. Pqp, nem acredito que fiz amizade com o delegado”, escreveu Loback, às 16h53.
Às 19h20, a mulher pergunta a Loback: “Deu tudo certo?”. Ele responde positivamente e indica que o delegado era lotado, na época da conversa, em alguma delegacia distrital, sem especificar a unidade. O ex-PM também diz que recebeu a promessa do policial de que, se algum miliciano fosse preso, ele o liberaria.
“Da parte deles, não tem nada contra a gente. Ele falou que o problema é a DH, Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil), Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MP). Esses sim, se pegarem, já era. Ele falou que, ele pegando, não dá nada, libera e alivia!”, disse Loback.
Acusado sabia detalhes de investigação
A conversa revela que o ex-PM sabia, antes da operação, de detalhes da investigação que tinha a milícia como alvo. No diálogo, ele disse à namorada que foi informado sobre o conteúdo de uma delação premiada feita por um comparsa.
“Esse não gostava de vocês?”, perguntou a mulher. O miliciano respondeu: “Não é questão de gostar né amor. Nunca tive problema e eles me idolatravam. Mas o pessoal entra na mente deles lá”. “Tomara que não tenham falado nada”, escreveu a mulher.
A conversa, além de integrar o processo contra os milicianos na 1ª Vara Criminal de Itaboraí, também faz parte de uma investigação aberta pelo Gaeco para apurar as conexões do grupo nas polícias. Os principais alvos são agentes da delegacia e do batalhão da cidade, a 71ª DP e o 35º BPM. A Polícia Civil não respondeu se algum delegado é investigado por ligação com a milícia. Loback segue foragido.
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