"É mais honesto e coerente empresários buscarem financiamento no BNDES. É melhor do que buscar dinheiro no Queiroz Investimento"
O deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP), que esteve no centro da disputa entre Jair Bolsonaro (PSL) e João Doria (PSDB), ironizou as críticas do presidente ao governador paulista por ter utilizado financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para comprar um jatinho.
"É mais honesto e coerente empresários buscarem financiamento no BNDES. É melhor do que buscar dinheiro no Queiroz Investimento", disse, se referindo a Fabrício Queiroz, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro que está sendo investigado por movimentações financeiras suspeitas e laços com milicianos quando era chefe de gabinete do filho do presidente na Assembleia Legislativa do Rio.
Frota foi um dos mais vocais apoiadores de Bolsonaro na campanha, mas progressivamente se afastou do presidente. Acabou expulso do partido de Bolsonaro, o PSL, abrindo a oportunidade para que Doria o convidasse a ingressar no PSDB.
É crítico do que chama de "radicais olavistas" em torno do presidente, citando o guru dos filhos de Bolsonaro e de alguns ministros, Olavo de Carvalho -"Herculano Quintanilha da Virgínia", segundo Frota, associando o escritor que mora naquele estado americano ao vigarista vivido por Francisco Cuoco na novela "O Astro" (1977-78).
O presidente criticou Doria na noite de quinta (29), quando disse que ele havia "mamado nas tetas do BNDES" nos governos do PT.
Assim como outro potencial rival na eleição de 2022, o apresentador Luciano Huck, o governador utilizou uma linha de financiamento feita para facilitar a venda de aviões executivos da fabricante paulista Embraer. Bolsonaro já havia feito referência à compra de Huck, e agora foi para cima de Doria.
"Ele está brigando sozinho, como já brigou com o [presidente da Câmara] Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o [presidente do Senado] Davi Alcolumbre (DEM-AP) e comigo", afirmou Frota.
O deputado foi até aqui um dos principais troféus de Doria na sua disputa com Bolsonaro, mas sua filiação é contestada por integrantes da velha guarda do tucanato, que apontam críticas feitas por Frota contra o então candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) como incompatíveis com sua presença no partido.
"O João Doria está fazendo o que um governador tem de fazer, está na Alemanha fechando contratos para o Brasil, enquanto o Bolsonaro está aqui arrumando confusão, buscando arrumar confusão com pessoas que trabalham em prol do Brasil. Bolsonaro não pode esquecer que votou com o PT justamente para criar esse financiamento legal que o Doria e mais 134 empresários utilizaram", afirmou.
Para Frota, o presidente está sendo "extremamente hipócrita" e "mais uma vez, abre a boca de maneira errada". "Ninguém está contra o Bolsonaro, ele só tem de parar de falar besteira. Todo dia ele escolhe um personagem para criar uma polêmica, ele não vive sem isso", disse.
Doria já havia respondido a Bolsonaro na Alemanha, onde visita instalações da Volkswagen e anunciou um investimento da empresa alemã de R$ 2,4 bilhões em São Paulo, dizendo que "nunca precisou mamar em teta nenhuma".
Para aliados do governador, a agressividade de Bolsonaro é um recibo passado às movimentações recentes do tucano.
Como elegeu-se apoiado pelo dito voto BolsoDoria no segundo turno de 2018 e transita numa faixa de eleitorado próxima à do presidente, Doria tem feito gestos para buscar diferenciar-se do ocupante do Palácio do Planalto. A filiação de Frota foi um dos eventos mais recente desta narrativa.
Nesse contexto, a crítica direta de Bolsonaro é bem-vinda para o governador, mas alguns de seus estrategistas temem que antecipação do debate de 2022 acabe desgastando Doria de forma precoce, em especial se houver uma recuperação econômica mais vigorosa à frente.
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