Ícone do feminismo, cantora IZA contratou uma motorista mulher, e conta: ‘Minha insegurança vinha do assédio que eu sofria’.
Dona de vozeirão, cabelão e corpão, a moça, inevitavelmente, chama atenção. No palco, nas ruas e nas redes sociais, sua presença é MAIÚSCULA. E ela gosta. Ou, melhor, aprendeu a (se) gostar...
— Na adolescência, minha insegurança vinha muito do assédio que eu sofria. Eu tinha vergonha do meu corpo, medo do impacto que ele poderia causar, e me cobria toda. Se eu pudesse voltar no tempo, diria para aquela menina: “Tudo vai passar, e um momento muito bonito de amor e de autoestima vai chegar” — afirma ela, rainha das fotos sensuais de biquíni e roupas decotadas e transparentes: — Se me gosto num clique, penso: “Tô linda, tô gata! Vou postar!”. Aí comentam: “Você não precisa disso!”. E quem disse que eu posto porque preciso? Posto porque quero, porque estou me sentindo maravilhosa! A objetificação que determinaram para o meu corpo não é problema meu. Se a mulher negra é estereotipada, isso está na cabeça dos outros, não na minha. Vivemos em outra época, não dá mais para tolerar isso.
Dona de vozeirão, cabelão e corpão, a moça, inevitavelmente, chama atenção. No palco, nas ruas e nas redes sociais, sua presença é MAIÚSCULA. E ela gosta. Ou, melhor, aprendeu a (se) gostar...
— Na adolescência, minha insegurança vinha muito do assédio que eu sofria. Eu tinha vergonha do meu corpo, medo do impacto que ele poderia causar, e me cobria toda. Se eu pudesse voltar no tempo, diria para aquela menina: “Tudo vai passar, e um momento muito bonito de amor e de autoestima vai chegar” — afirma ela, rainha das fotos sensuais de biquíni e roupas decotadas e transparentes: — Se me gosto num clique, penso: “Tô linda, tô gata! Vou postar!”. Aí comentam: “Você não precisa disso!”. E quem disse que eu posto porque preciso? Posto porque quero, porque estou me sentindo maravilhosa! A objetificação que determinaram para o meu corpo não é problema meu. Se a mulher negra é estereotipada, isso está na cabeça dos outros, não na minha. Vivemos em outra época, não dá mais para tolerar isso.
Vaidosa, esta Deusa de Ébano não é muito fã de academia e cita “tomar muita água” como seu principal cuidado estético.
— Estou sempre hidratando a pele, isso é o principal. Eu deveria fazer mais exercícios físicos, mas tenho tido pouco tempo. Então, procuro manter uma alimentação balanceada. Mas não tem nada que eu não coma só para manter a forma. Só não rola beterraba, inhame e fígado porque não gosto — detalha, bem-humorada: — Fora isso, faço máscara de argila e esfoliação toda semana, uso protetor solar diariamente. E não dispenso rímel e um bom lápis para os olhos. Um olhar marcante é tudo!
Na vida, a beleza é recebida como dádiva. Já na carreira, passa a ser uma questão quando colocada lado a lado com o talento musical. Ainda mais se a comparam a outras cantoras, como Anitta e Ludmilla, num tom de rivalidade.
— Isso é muito louco, porque não sinto que aconteça o mesmo com os cantores homens. Somos muito visadas pela nossa aparência. Existe uma pressão para que a gente se mostre de um determinado jeito, o que eu acho supercruel e injusto. É bom frisar que somos parceiras, nos admiramos e respeitamos — afirma a atual apresentadora do “Música boa ao vivo”, do canal Multishow, dona de um repertório que passa longe de termos como “inimigas” e “recalque”, comumente usados em hits do funk e do pop para se referir a outras mulheres: — Não combina comigo nem é o tipo de recado que meus fãs esperam de mim. O mundo já é muito machista, cruel demais com as mulheres. É perda de tempo e desserviço ficar incitando esse tipo de competição.
Com Ludmilla no “Música boa ao vivo”: elas lamentam a rivalidade que criam entre as cantoras pop Com Ludmilla no “Música boa ao vivo”: elas lamentam a rivalidade que criam entre as cantoras pop Foto: Reprodução
Ludmilla rasga elogios para a colega de profissão e também lamenta o clima de disputa:
— IZA canta muito, tem um superswing, é linda... Tô apaixonada pelo CD dela! O que mais me incomoda nas comparações que fazem entre a gente é que temos muitos fãs crianças e adolescentes. Eles acreditam no que veem por aí e acabam brigando por nada! Nos admiramos e nos apoiamos tanto, e as pessoas ainda criam rivalidade entre nós.
Amiga da artista, Preta Gil se diz admirada com sua força:
— Ela é um furacão! É um ser humano de caráter muito forte, um talento sobrenatural e uma beleza divina. Desde que a gente se encontrou pela primeira vez, eu soube que ela iria brilhar muito. Fico só aplaudindo e aprendendo com ela, que só está chegando para dominar.
Com Preta Gil: a amiga admira a sua força Com Preta Gil: a amiga admira a sua força Foto: Adriana Lorete/ 17.02.2018
Com outras “manas” negras e famosas, IZA integra um grupo de WhatsApp, cujos debates fortalecem e embasam seu discurso:
— Somos eu, Cris Vianna, Taís Araújo, Gloria Maria, Juliana Alves, Camila Pitanga, Tia Má e mais uma galera que é muito ativa quando se fala de representatividade, empoderamento e racismo. A gente precisa se movimentar, dizer coisas que as pessoas precisam ouvir. Quando unificamos nosso discurso, a mensagem fica mais eficaz. Eu me informo, aprendo, troco ideias, mudo de opinião... Sinto que faço a minha parte.
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Se o assunto gira em torno de vaidade e negritude, o assunto “cabelo” vem logo à tona. Há quase dois meses, IZA abandonou as longas tranças box braids (feitas com material sintético) e revelou seus fios ao natural.
— As tranças fizeram parte de um momento de transição, que é bem doloroso, porque você não sabe para onde os seus fios estão indo. Meu cabelão é um estímulo para as meninas irem até o fim. O resultado sempre vale a pena — assegura a musa, que durante a adolescência se submetia ao alisamento porque cresceu ouvindo que “cabelo crespo é feio”: — Uma coisa eu acho muito importante dizer: empoderamento não existe para ditar regras. Hoje, estou amando o meu crespo, mas, se amanhã eu resolver alisá-lo de novo, tudo bem também. Ninguém tem nada a ver com isso.
“E não dispenso rímel e um bom lápis para os olhos. Um olhar marcante é tudo!”, conta ela “E não dispenso rímel e um bom lápis para os olhos. Um olhar marcante é tudo!”, conta ela Foto: Gabryel Sampaio/ Produção de moda: Cah Viana/ Styling: Bianca Jahara/ Beleza: Mary Savedra/ Camisa:
Com o racismo, essa carioca bateu de frente ainda na infância. Nascida no subúrbio, numa família de classe média, ela foi morar em Natal (RN) aos 6 anos com o pai, o militar Djalma Leite Lima, e a mãe, a professora Isabel Cristina Lima. Lá, era a única negra da escola.
— Demorei a perceber que me tratavam mal por causa da minha cor. Contei para a minha mãe, e ela nunca mais deixou esse tipo de coisa ir adiante. Se tivesse que voltar outras 15 vezes à escola para reclamar, ela voltava — relembra, citando outro episódio triste, mas determinante em sua formação musical: — Teve uma enchente onde morávamos, e perdi toda a minha coleção de discos de Xuxa, Eliana e Angélica. Aí, passei a ouvir os do meu pai: Brian McKnight, George Benson, Stevie Wonder, Michael Jackson, Diana Ross, Earth, Wind & Fire, Donna Summer... Acabei me apaixonando por esses artistas. Foi decisivo para definir o que eu gostava de cantar. E foi a primeira vez que prestei atenção na minha voz... Engraçado como essas adversidades da vida podem mudar radicalmente o nosso caminho!
Também nos tempos de escola, IZA começou a construir sua hoje aparentemente inabalável autoestima:
— Na infância, eu sempre achei que tinha alguma coisa de errado comigo. Aí, na 5ª série, entrei pela primeira vez na lista das meninas mais bonitas da sala, porque apareceu o quesito “simpatia”, e as outras eram bem nojentinhas (risos). Foi um dos momentos mais felizes!
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Iza quando criança: “Na infância, eu sempre achei que tinha alguma coisa de errado comigo” Iza quando criança: “Na infância, eu sempre achei que tinha alguma coisa de errado comigo” Foto: Reprodução de Instagram
Na transição menina-mulher, a aproximação com o sexo oposto permaneceu complicada:
— Fui dar meu primeiro beijo com 18 anos! Não sei se por timidez, por ser discriminada mesmo ou por, simplesmente, me blindar.
O mulherão que agora provoca com músicas sensualíssimas, como “Saudade daquilo” (“Olha pra mim/ Vem aqui que eu tô a fim/ Tira o jeans/ E me faz sentir”) e “No ponto” (“Eu vou te dar/ O presente que cê quer/ Bem devagar/ Te mostro como é/ Me esquenta mais/ Que eu vou guiar você/ Pra lá, pra cá/ Até você chegar no ponto G”), conta que passou a tomar a iniciativa nos relacionamentos já na fase adulta.
— Sempre fui muito ansiosa, não gosto de esperar. Por que perder tempo? — sentencia ela, que também se define extremamente perfeccionista: — Eu me cobro demais! E isso nem sempre é positivo. É ótimo para o meu trabalho, quando exijo uma postura da minha equipe (pelo menos 30 pessoas a acompanham em viagens e outras 30 lhe prestam serviços terceirizados). O complicado é que para mim nunca está bom o suficiente. Só agora comecei a me ver na TV, acredita? Me assistir e perceber minhas falhas é doído, e ninguém é perfeito, né?
"Demorei a perceber que me tratavam mal por causa da minha cor", conta ela, sobre os tempos de escola Foto: Gabryel Sampaio
O namoro com o produtor carioca Sérgio Santos, de 30 anos, nasceu, digamos, da proatividade da moça. Os dois se conheceram nos estúdios de gravação do CD dela, e foi a cantora quem demonstrou interesse.
— Ele é o cara mais companheiro que eu já tive na vida. Super entende o lugar que ocupo e é muito feliz com isso. A ciumenta da relação sou eu! — entrega ela, que tenta driblar a agenda cheia de shows (são, em média, 15 por mês), compromissos na TV (o comando do “Música boa ao vivo”, até outubro, e as participações em outros programas) e eventos variados para encontrar o amado: — Eu e ele moramos no Rio, e a gente consegue se ver algumas vezes por semana. Mas não é tão simples. Ou eu vou até Sérgio ou ele vem até mim. E isso implica, muitas vezes, em pegar um avião.
Com o namorado, Sérgio Santos: “Ele é o cara mais companheiro que eu já tive na vida” Com o namorado, Sérgio Santos: “Ele é o cara mais companheiro que eu já tive na vida” Foto: Reprodução de Instagram
Depois de se apresentar com o rapper americano CeeLo Green no Rock in Rio 2017; abrir o show do Coldplay em São Paulo, em novembro do ano passado; gravar clipes com Marcelo Falcão, ex-O Rappa (“Pesadão”), e com o rapper Rinco Paciência (“Ginga”), pergunte a IZA com que artista no mundo ela ainda gostaria de fazer um “feat”. Para quem espera as divas Rihanna ou Beyoncé como resposta, ela surpreende:
— Tenho muita vontade de fazer alguma coisa com a Liniker (cantora transexual paulistana).
De internacional, por enquanto, nem projeções para a própria carreira. Focada na estreia de sua nova turnê, no próximo dia 10 de agosto, em São Paulo — depois, ela viajará com o show pelo Brasil —, IZA não pretende se lançar no exterior tão cedo.
— Acabei de chegar, de apresentar meu primeiro CD. Sempre que tiver a chance de colaborar com artistas de fora, que eu admire, vai acontecer. Mas lançar uma carreira lá fora ainda não está nos meus planos — garante ela, mais plena do que nunca: — Não me falta nada. Amo meu trabalho, minha equipe, meus fãs, minha família, meu namorado... Está tudo no lugar. Parece que vivo um sonho!
Que nega formosa
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