Entre terça e quarta-feira, PMDB e PP, os dois maiores aliados no Congresso, irão discutir o desembarque do governo.
Em jogo, estão 118 votos no plenário da Câmara, onde será travada a batalha do impeachment.
Na iminência de perder sustentação, Dilma decidiu recorrer ao pragmatismo da troca de cargos por apoio. Chamada no Planalto de "operação do varejo", a estratégia é atrair políticos influentes e partidos nanicos para barrar uma deserção geral. A ação foi deflagrada quinta-feira, quando um afilhado do vice-presidente Michel Temer, o presidente da Funasa, Henrique Pires, foi exonerado para abrir espaço ao inexpressivo PTN. Além da retaliação a Temer, que manobra para aprovar por aclamação o desembarque do governo, pesou na aritmética palaciana os 13 deputados do PTN — um deles com assento na comissão do impeachment. A demissão forneceu ao vice mais munição para comandar a saída do PMDB das hostes governistas, o que deve acontecer durante reunião do diretório nacional, amanhã.
O encontro estava previsto para abril, mas foi precipitado pelo acirramento da crise e pela investida sobre setores da legenda após a malfadada nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. Irritado com o assédio, Temer se recusa a atender telefonemas de Lula e passou a semana em São Paulo, cooptando apoio à debandada.
— Temos entre 75% e 80% dos votos do diretório. Nem o Lula é capaz de virar. Ninguém mais atende às ligações dele, com medo de ser grampeado — afirma o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
Pelo menos 14 diretórios estaduais já se manifestaram a favor do rompimento. A defecção mais nociva ao Planalto foi a do diretório fluminense, até então reduto fiel ao governo. Dilma se sentiu traída, pois mantinha relação próxima com os principais líderes do PMDB do Rio, entre eles o governador Luiz Fernando Pezão e seu antecessor, Sérgio Cabral.
— A base do governo está derretendo. Com o PMDB confirmando a saída, os demais partidos vão atrás. Será um efeito dominó — avalia um do prócer do partido.
Raciocínio semelhante vigora no PP. Artífice da reunião de quarta-feira na qual o partido irá definir seu rumo político, o deputado Jerônimo Göergen (PP-RS) avalia que o desembarque das duas siglas do governo será fundamental para encurtar o mandato de Dilma:
— Não estamos fazendo nada atrelado ao PMDB, mas é óbvio que a decisão deles terá impacto sobre a nossa e sobre todos os demais partidos da base. O rompimento praticamente acaba com o governo.
Da bancada do PP, 22 dos 49 deputados e quatro dos seis senadores assinaram documento pregando a saída do governo. O presidente da legenda, senador Ciro Nogueira (PP-PI), permanece fiel ao Planalto, mas já admite ser difícil segurar o desembarque. O mesmo ocorre em partidos menores, como PSD, PR, PTB e PRB. Juntos, eles têm 113 deputados. O PRB foi o único a romper com o governo — e perdeu o Ministério dos Esportes, agora disponível no balcão de negociações do Planalto. PSD, PR e PTB ainda mantém três ministérios e centenas de cargos, mas na Câmara a maioria dentro das bancadas é a favor do impeachment.
Os tamanhos
PMDB
Dono da maior bancada do Câmara e do Senado, com 69 deputados e 18 senadores, o PMDB detém tem sete ministérios e controla cerca de 600 cargos no governo.
PP
Com 49 deputados, o partido tem a terceira maior bancada e controla o Ministério da Integração Nacional. No Senado, são seis parlamentares.
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