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Para ativista cofundadora do movimento "Amazônia de Pé", cultura e educação ajudam a construir justiça climática. Ela é uma das painelistas do TEDxAmazonia, que acontece em Manaus.Bióloga e ativista Karina Penha: cultura e educação ajudam a construir justiça climática. — Foto: Divulgação
Nascida na Baixada Maranhense e residente em São José de Ribamar, a bióloga e ativista Karina Penha tem quase 10 anos de experiência na construção do movimento de justiça climática com a juventude no Brasil. Com a visão fresca das gerações mais novas, ela diz que o país precisa desenvolver um novo olhar sobre a Amazônia e seus povos.
Karina é cofundadora do movimento "Amazônia de Pé", que se dedica à proteção das florestas públicas e à promoção da cultura e educação como ferramentas para a justiça climática, e será uma das palestrantes do TEDx Amazônia 2024, que ocorre de 29 de novembro a 1º de dezembro em Manaus.
Em entrevista ao Um Só Planeta, ela conta que desde sua criação há dois anos, o movimento Amazônia de Pé evoluiu significativamente até se tornar a plataforma de ação que é hoje. Inicialmente, começou como uma campanha focada na coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular visando a destinação de florestas públicas não destinadas. Com o tempo, se transformou em um movimento, reunindo uma coalizão de 350 organizações da sociedade civil brasileira, abrangendo diversas áreas como direitos indígenas, quilombolas e educação.
Atualmente, o movimento conta com mais de 21.000 voluntários cadastrados que coletam assinaturas em todo o Brasil. Até o momento, foram coletadas quase 300.000 assinaturas físicas, com mais de 2 milhões em processo de coleta online. Para criação do PL de iniciativa popular em nível nacional a exigência é de 1% do eleitorado, em pelo menos cinco estados, algo em torno de 1,5 milhão de assinaturas manuscritas distribuídas por pelo menos cinco unidades federativas.
Além da coleta de assinaturas, a plataforma também desenvolve programas pedagógicos, como o "Amazônia de Pé nas Escolas", que visa educar sobre mudanças climáticas, incluindo escolas indígenas. O movimento promove eventos culturais, como a "Virada Cultural Amazônia de Pé", para aumentar a conscientização sobre a importância da Amazônia e engajar a população na luta pela sua proteção. Além disso, Karina participa do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e do grupo "Engaja Mundo", onde atua na mobilização de jovens para conferências climáticas da ONU.
Na entrevista, repete uma frase que a acompanha -- e alimenta -- o movimento: "Nós somos a última geração que pode salvar a Amazônia. Isso não é slogan, é fato", afirma. Segundo cientistas, a Amazônia pode chegar a ponto de não retorno até 2050, estágio crítico em que a degradação ambiental se torna irreversível, levando a mudanças drásticas no ecossistema que podem resultar na perda significativa da floresta e na alteração do clima regional, com impacto para todo o mundo.
"A gente é a primeira geração que realmente sente esses efeitos e que sabe o que é o efeito [da emergência climática]. A gente sente um calor a mais e a gente sabe que não é um calor simples a mais", pontua. Ela destaca a importância de reconhecer que as mudanças climáticas estão afetando diretamente as comunidades e os territórios, e que a falta de ação pode levar a consequências irreversíveis. Da mesa forma, os impactos se distribuem de forma desigual na sociedade, aumentando o fardo para pessoas vulnerabilizadas.
Atenta a isso, a ativista dirige ainda o Perifa Connection, uma rede que reúne organizações e lideranças periféricas do Brasil com um objetivo comum: promover a justiça social e ambiental, abordando as questões que afetam as comunidades periféricas e fortalecendo a mobilização e a ação coletiva entre essas populações.
Isso inclusive reflete na preocupação de Karina com a forma como o emergente conceito de ansiedade climática é discutido no espaço público. "Eu acho que ele chegou num lugar muito superficial, do tipo 'Ah, eu não consigo ler uma notícia que isso me afeta', mas enquanto isso tem pessoas que têm medo real quando chove porque podem perder suas casas e vidas", pondera.
O desafio de engajar jovens
Especialmente em relação às comunidades que já enfrentam múltiplas desigualdades e desafios socioeconômicos, Karina destaca a necessidade de esforços adicionais para envolver os jovens na causa ambiental. Um dos principais obstáculos é a urgência das necessidades diárias que muitos desses jovens, especialmente os de classes mais baixas, enfrentam. Para eles, questões como a sobrevivência e a falta de alimentos muitas vezes ocupam o primeiro plano, tornando difícil pensar em problemas como as mudanças climáticas.
"Muitas vezes, as mudanças climáticas não são percebidas como uma prioridade, pois os jovens estão mais focados em suas lutas diárias. Isso exige um esforço para conectar as questões ambientais com as realidades locais e as urgências que esses jovens vivem", afirma.
Outro desafio é a forma como as mudanças climáticas são apresentadas. Karina menciona a necessidade de evitar que a discussão sobre o clima se torne mais uma cobrança para aqueles que estão em situação difícil. É crucial abordar a questão de maneira que não culpe as comunidades afetadas, mas que as empodere e as envolva na luta por justiça climática, recomenda. E mais: que a narrativa não seja derrotista.
Por fim, a mobilização também requer um cuidado especial na comunicação, buscando transmitir mensagens de esperança e ação, em vez de apenas dados alarmantes que podem reforçar uma sensação de desespero e falta de futuro.
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