Mineira de Paraopeba, após quase dez anos dedicados a uma carreira errática, durante a qual cantara boleros e canções românticas antes de descobrir os sambas de raiz, Clara Nunes encontrava o maior filão de sua carreira. Outros sambas litorâneos, ligados ao sincretismo religioso e com forte influência das religiões afro-brasileiras, viriam em seguida.
Já no disco de 1975, Claridade, repetiria o sucesso do ano anterior com “O Mar Serenou”, de Candeia (“O mar serenou / quando ela pisou / na areia / quem samba na beira do mar / é sereia”) e “A Deusa dos Orixás“, novamente de Romildo e Toninho (“Yansã, cadê Ogum? / Foi pro mar / Yansã penteia / os seus cabelos macios / quando a luz da lua cheia / clareia as águas dos rios”). Nos shows e nas capas dos discos, Clara costumava vestir branco e, quase sempre, mantinha os pés descalços, reforçando a imagem de umbandista, religião à qual de fato se converteria, ampliando a influência que os cânticos exerciam sobre sua música.
Ainda em 1975, Clara se casou com Paulo César Pinheiro, um dos mais importantes e prolíficos letristas da MPB, o que contribuiu para aproximá-la de canções com maior densidade literária, embora jamais tenha abdicado dos sambas de roda e de morro, nem dos clássicos do cancioneiro de Caymmi e Gordurinha, que ela já entoava desde o início da década. É de Paulo César Pinheiro, entre outras, a letra de “O Canto das Três Raças“, gravada no disco homônimo de 1976: “Ninguém ouviu / um soluçar de dor / no canto do Brasil / (…) E de guerra em paz / de paz em guerra / todo o povo desta terra / quando pode cantar / canta de dor”. Chico Buarque compôs “Morena de Angola” especialmente para ela, em 1980.
Apelidada de Sabiá e portelense por adoção, Clara Nunes morreu em 1983, aos 40 anos, em decorrência de complicações após uma aparentemente simples cirurgia para retirada de varizes da perna.
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