O novo antissemitismo aceita o Holocausto e nega Israel
Caio Blinder
O anti-semitismo é uma expressão (e concretização) clássica de intolerância, preconceito e desumanização. O Holocausto foi o resultado extremo do anti-semitismo e, ironicamente, a negação (ou minimização) do genocídio do povo judeu é uma expressão da intolerância, preconceito e desumanização. Mais recentemente, irrompeu um novo anti-semitismo no qual não se nega o Holocausto, mas equipara os judeus a seus algozes nazistas em função da ocupação de territórios e do conflito de Israel com os palestinos. Nesta narrativa, Gaza é uma nova versão do Gueto de Varsóvia. Os palestinos são os novos judeus e os judeus são os velhos nazistas. Críticas às políticas de Israel obviamente não implicam automaticamente em anti-semitismo, mas o anti-semita mais moderno se esconde atrás dos seus ataques a Israel para justificar o preconceito e a intolerância. Críticas a Israel ou ao sionismo de comunidades judaicas na Diáspora (no debate sobre dupla lealdade) são especialmente rancorosas e intolerantes. Críticos removem a legitimidade do Estado de Israel (e por extensão do povo judeu) quando o equiparam à Alemanha nazista. A equivalência é falsa, serve na verdade para legitimizar o novo anti-semitismo, trivializa o Holocausto e confunde ainda mais a complexa questão palestina.
Em uma nota pessoal, eu, no meu trabalho de jornalista, sou alvo de ataques de intolerância por minha condição judaica e defesa de direitos históricos do povo judeu ao Estado de Israel, embora seja claríssimo no meu posicionamento a favor de um Estado palestino viável. Em mais de 30 anos de jornalismo, nenhum assunto foi tratado com tanta paixão (e intolerância) por meus leitores, espectadores e ouvintes como o conflito entre Israel e os palestinos. A Internet, em particular, tornou-se o veiculo mais gritante de um anti-semitismo ignorante, chulo e paranóico.
* O jornalista paulistano Caio Blinder está radicado nos EUA, desta vez, há 20 anos. Participou do programa Manhattan Connection, do GNT, desde o início em 1993, é correspondente da rádio Jovem Pan em Nova York, colunista de política internacional do Portal IG e crítico de livros do jornal O Estado de S. Paulo. Foi editor de Exterior e correspondente da Folha de S. Paulo nos EUA, colunista de O Globo e editor de Internacional das TVs Bandeirantes e Cultura. Começou a trabalhar nos anos 70 em órgãos da imprensa judaica em São Paulo. Tem mestrados em Estudos Latino-Americanos (Ohio University) e Relações Internacionais (University of Notre Dame). É autor dos livros Manhattan e Outras Conexões e Terras Prometidas: do Bom Retiro a Manhattan.
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