Fenaj destoa da ANJ - que tem "dono" do Estadão como vice-presidente - e afirma que assédio e violações de direitos na sucursal de Brasília, comandada por Andreza Matais, são denunciadas há anos
Em nota conjunta divulgada na noite desta terça-feira (21), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) partiram para cima do Estadão sobre as denúncias de "assédio moral" denunciadas por repórteres da sucursal de Brasília contra a editora-chefe de Política, Andreza Matais, relacionadas ao factoide da "dama do tráfico" do Amazonas, usado para atacar o ministro da Justiça, Flávio Dino, um dos postulantes à vaga deixada por Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF).
No texto, as entidades expõem as violações de direitos do jornal denunciadas há anos e se diz atenta às denúncias de assédio na sucursal comandada por Andreza Matais.
"Como entidades de caráter sindical e, portanto, de defesa dos trabalhadores e seus direitos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) seguirão cobrando o cumprimento dos direitos trabalhistas no Estadão. Falta de controle de jornadas extenuantes e não pagamento de horas extras são algumas das violações principais que as entidades têm denunciado e combatido há anos. E seguiremos vigilantes sobre quaisquer situações que configurem assédio moral individual ou coletivo na sucursal do jornal em Brasília", diz o texto.
A nota das duas entidades representativas dos jornalistas, destoa daquelas divulgadas pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) - que tem Francisco Mesquita Neto, "dono" do Estadão, como vice-presidente - e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), coletivo de jornalistas da mídia liberal, que saíram em defesa de Matais, que se diz vítima de "perseguição" pela mídia independente e pelo governo.
Para a Fenaj e o SJPDF "essas críticas não podem se confundir com perseguições".
"É absolutamente natural que, num ambiente democrático, o trabalho dos jornalistas possa, sim, ser alvo do escrutínio público e receber críticas que ajudem esclarecer enquadramentos e corrigir equívocos, como um processo de aperfeiçoamento do próprio ofício e em nome da necessária pluralidade na esfera pública. Nesse sentido, avaliamos que a cobertura jornalística deve sempre se pautar por diversidade de fontes e devida contextualização dos fatos. Não se deve fomentar, de forma irresponsável, ilações, sem qualquer comprovação, do envolvimento de membros do governo com grupos criminosos, reforçando absurdas teses de setores extremistas que tanto mal causaram à democracia brasileira", diz o texto - leia a íntegra ao final da reportagem.
Nova denúncia de assédio
Também nesta quarta, três dias após a Fórum revelar a denúncia feita por colaboradores do Estadão sobre suposta armação na reportagem que tenta ligar Flávio Dino ao Comando Vermelho, o site Brasil 247 teve acesso à nova denúncia feita por jornalistas do tablóide de ultradireita paulista contra a empresa e Andreza Matais.
No documento, apresentado ao MPT-DF sob o número de protocolo 003036.2023.10.000/8, os jornalistas fazem um "pedido de socorro" e citam, inclusive, a reação da direção do Estadão às acusações.
"Mais uma vez, colaboradores do jornal Estadão se veem obrigados a procurar o Ministério Público do Trabalho para que seus direitos trabalhistas e fundamentais sejam preservados. Depois de denúncias feitas contra a gestora Andreza Matais, contra a gestão editorial do Estadão e obviamente contra o próprio Estadão como pessoa jurídica, o jornal tenta se fazer de vítima, como se estivesse sendo 'perseguido' por fazer jornalismo independente. Tal distorção, feita pelo jornal, investigado seguidas vezes por ilegalidades trabalhistas, é um disparate completo, porque o jornal só está sendo denunciado pelas inúmeras ilegalidades trabalhistas que cometeu", diz trecho da nova denúncia.
Questionada pelo Brasil 247 sobre a acusação, Andreza Matais se disse vítima de misoginia e de perseguição por parte do governo federal e da mídia independente - leia a íntegra da nova denúncia.
Leia a íntegra da nota da Fenaj e SJPDF.
Caso Estadão: entidades pedem respeito ao Código de Ética e repudiam perseguições
Nas última semana, vieram à tona questionamentos sobre reportagens publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo (Estadão) e as reações de membros do governo federal em relação à participação de uma pessoa indicada pelo Mecanismo de Combate à Tortura do Amazonas em reuniões nos ministérios da Justiça (MJSP) e Direitos Humanos (MDHC), bem como no Congresso Nacional e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
É preciso destacar que o trabalho jornalístico tem como base fundamental o direito à informação, que abrange o direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação, a partir de critérios claros de relevância e interesse público, e de respeito a princípios éticos.
Diante desse quadro, o trabalho da imprensa numa democracia não pode sofrer impedimentos de caráter censório, mas a divulgação da informação precisa, correta, verdadeira e ética é uma responsabilidade essencial dos jornalistas, que desenvolvem um trabalho social, como preconiza o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
É absolutamente natural que, num ambiente democrático, o trabalho dos jornalistas possa, sim, ser alvo do escrutínio público e receber críticas que ajudem esclarecer enquadramentos e corrigir equívocos, como um processo de aperfeiçoamento do próprio ofício e em nome da necessária pluralidade na esfera pública.
Nesse sentido, avaliamos que a cobertura jornalística deve sempre se pautar por diversidade de fontes e devida contextualização dos fatos. Não se deve fomentar, de forma irresponsável, ilações, sem qualquer comprovação, do envolvimento de membros do governo com grupos criminosos, reforçando absurdas teses de setores extremistas que tanto mal causaram à democracia brasileira.
Essas críticas não podem se confundir com perseguições. Estas últimas, sim, absolutamente repudiáveis. Por isso, não aceitaremos agressões contra jornalistas, seja por parte de entes estatais, autoridade ou personalidade pública. Repudiamos também ações massivas na internet que ataquem a integridade moral de jornalistas no exercício da profissão.
Como entidades de caráter sindical e, portanto, de defesa dos trabalhadores e seus direitos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) seguirão cobrando o cumprimento dos direitos trabalhistas no Estadão. Falta de controle de jornadas extenuantes e não pagamento de horas extras são algumas das violações principais que as entidades têm denunciado e combatido há anos. E seguiremos vigilantes sobre quaisquer situações que configurem assédio moral individual ou coletivo na sucursal do jornal em Brasília.
Por fim, informamos que quaisquer violações éticas podem ser denunciadas às respectivas Comissões de Ética dos Sindicatos e da Fenaj, que apuram e julgam as denúncias de transgressão ao Código de Ética dos Jornalistas, cometida por jornalista na jurisdição de entidade sindical.
Brasília, 21 de novembro de 2023.
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF)
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