Nas manifestações dos últimos dias, assistimos a cenas inacreditáveis de crianças sendo utilizadas, ao modo dos terroristas, como 'escudos humanos'
Jair Bolsonaro não é o pai de toda essa barbárie civilizatória que experimentamos há alguns anos, recrudescida sobremaneira após a chegada do novo coronavírus ao Brasil. Aliás, o termo bolsonarismo, que tende a permanecer, fará injusta homenagem ao ogro derrotado nas urnas, pois fará crer que toda esta gigantesca horda de selvagens, que escapuliu das jaulas do inferno, existe por e pelo “mito”. Bobagem.
Pessoas violentas, rancorosas, insensíveis, incapazes de conviver em sociedade nós as temos aos montes - e sempre! Beleza. Novidade alguma. Mas jamais as tivemos em tão grande número e tão próximas assim. A impressão que tenho é que, a partir de agora, tal movimento tende a crescer, e líderes como Bolsonaro, Nikolas, Zambelli e afins tornar-se-ão cada vez mais numerosos e mais populares.
Como iniciei este texto, o tal bolsonarismo não representa o Messias, mas, sim, o que ele representa: intolerância, preconceito, autoritarismo… totalitarismo! É surreal assistir a pais e mães que conheço há décadas, gente que sempre imaginei ser da melhor qualidade, apoiar e repetir discursos de ódio contra pobres e nordestinos. Aliás, gente que se dizia preocupada com a democracia, ir para as ruas pedir golpe militar.
Nos últimos dois meses, contudo, atônitos - ao menos eu estou - assistimos a crianças, pré-adolescentes e adolescentes comportarem-se como legítimos nazifascistas, publicando coisas horrendas nas redes sociais e praticando violência física contra colegas nas escolas. Uma menina de 16 anos, numa escola, falou em “derramar sangue” contra o PT. Outra em “pegar em armas para impedir a posse do ladrão”.
No Colégio Loyola, de Belo Horizonte, uma das mais tradicionais escolas da cidade, alunos “bolsonaristas” hostilizaram colegas “petistas”. Recorro às aspas, pois não são nada ainda, senão crianças repetindo os pais. Até em instituições de pré-primário os pequeninos rompiam as brincadeiras contra quem fosse petista. Meus Deus! Estou falando de criaturinhas com menos de 10 anos. Com quem aprenderam isso?
Vítima do bolsonazifascismo
Em Curitiba, também em uma escola de elite, adolescentes arrancaram, à força, uma bandeira do PT das mãos de um aluno, urinaram sobre o pano e depois tocaram fogo, publicando os vídeos nas redes sociais. Pavorosas trocas de mensagens em grupos de WhatsApp foram trocadas em colégios de elite de São Paulo, todas de cunho xenófobo e racista, além de ameaças de violência e até de morte.
E foi também numa escola judaica, em Porto Alegre, que mais um ataque inaceitável, um ataque de cunho nazifascista ganhou as manchetes no sábado. Alunos judeus, ofendendo outros alunos por causa da cor, origem e classe social, que votaram em Lula. Que filhos de Abraão são estes? Aliás, filhos de que pais? De pais judeus? Judeus como aqueles do clube A Hebraica, no Rio de Janeiro?
Para quem não sabe, durante a campanha eleitoral de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro, em discurso no clube, se referiu a quilombolas como gado de corte, que não serviriam nem mesmo para procriação, sendo aplaudido de pé, sob gargalhadas. Imagino o que o inominável nazista, responsável pela morte de mais de 6 milhões de judeus, não sentiu nessa hora, lá das profundezas do inferno.
Nas manifestações golpistas, ilegais e criminosas dos últimos dias, assistimos a cenas inacreditáveis de crianças sendo utilizados, ao modo dos terroristas, como “escudos humanos”. E gente bem miudinha, mas miudinha mesmo, com bandeiras e faixas nas mãos, pedindo o fim da democracia. Caramba! Deveriam estar brincando e jogando bola, e não praticando crime e aprendendo sobre violência.
O nazismo, o fascismo, o comunismo, o maoísmo, enfim, todas as tiranias sanguinolentas da história contaram com a resistência de gente brava, humana, que correu riscos - e perdeu a vida -, combatendo o mal. Decidi fazer parte desta resistência. Daqui a, sei lá, 30 anos, ou mais, os livros de história retratarão esse momento cruel do Brasil, onde até crianças tornaram-se agentes da desgraça, e eu estarei lá..
Sim, como eu disse, o “bolsonarismo” não irá passar. Como não irão passar os milhões de brasileiros que lutam e lutarão contra a violência dessa gente. Quando os historiadores contarem o que aconteceu, quero que se lembrem do lado que estive. Este será o meu grande legado.
E decidi lutar, como posso, com meus textos e minhas falas contra essa loucura que tomou conta do País. Não vou me calar!
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