“A noite é
mais escura quando a aurora se aproxima”
Bem amigas e amigos do Facebook, queridos leitores, 58 dias nos separam da derrocada do tirano e sua derrota, quiçá no primeiro turno.É uma possibilidade, bem sei. Raramente temos base para tal. A única coisa líquida e certa é o presente, e as pesquisas, todas indicam que o tirano será derrotado, talvez já no 1º turno. Até mesmo o passado é uma certeza ilusória, pois vai se modificando de forma imprevisível com o passar do tempo, tempo que não respeita nem o que já aconteceu. Já o futuro está sempre envolto em espessa e impenetrável névoa. Alguns poucos conseguem enxergar para além dessa névoa. Não é o meu caso, infelizmente. O economista, aliás, é o último e mais precário dos profetas, mesmo quando se atém à sua área.
Em
2018, fiz uma besteira em anular meu voto no segundo turno dei com os burros
n’água. Foi medonho. Mas no fundo acreditava que Jair Bolsonaro, figura tão
repulsiva, seria derrotado inapelavelmente no segundo turno, mesmo com Lula
fora do páreo, excluído que estava por estar condenado e preso. A decisão foi
difícil nunca havia anulado voto em minha vida.
Comprovei, mais uma vez, que o Brasil é a minha grande ilusão. Outro dia, relendo os Essays in Biography de Keynes, trombei com uma observação dele sobre um presidente da França, Georges Clemenceau, com a qual me identifiquei plenamente: “Clemenceau tinha uma ilusão – a França; e uma desilusão – a humanidade, incluindo os franceses”. Importante essa distinção entre o País e seus nacionais, distinção que também fazia De Gaulle. Para um nacionalista só os últimos decepcionam.
Vamos
falar do futuro. O fim do nosso pesadelo está próximo, leitora e leitor. Não
lhe parece? É verdade que o show de horrores continua e se agravou nos meses
recentes. Do nosso lado, as lamúrias são lancinantes. As nossas bolhas estão
coalhadas de gemidos e gritos de desespero. Compreensível. Bolsonaro,
coadjuvado por Arthur Lira, está fazendo estrago em todas as áreas, na luta
desenfreada por sua reeleição. Estão dispostos a tudo. De mão dadas, vão
destruindo tudo que tocam. Invoco, porém, um antigo provérbio: “A noite é mais
escura quando a aurora se aproxima”. Não terá base científica, mas parece boa
metáfora para nosso momento.
Não há dúvida de que o tirano, com a máquina na mão e o Congresso no bolso, tem muita munição. Está se valendo disso sem o mínimo escrúpulo. Cometeu, entretanto, alguns erros, talvez fatais. A PEC eleitoral e do desespero, um grande pacote de transferências sociais, notadamente a duplicação do auxílio Brasil, veio tarde demais, tudo indica. Se tivesse sido aprovada no início do ano, o seu efeito seria certamente muito maior e poderia até ser decisiva para a reeleição do estrupício.
O caminho tentado inicialmente pelo governo, o de reduzir impostos sobre combustíveis, não era tão promissor. O repasse aos preços era incerto e a resistência dos governadores à redução do ICMS dificultava o avanço da proposta. Perdeu-se com isso tempo precioso.
Será mesmo? Arrisco dizer que não há condições para tal. Um golpe tem certos requisitos, requisitos que parecem ausentes na atual conjuntura nacional e internacional. Por exemplo: há apoio amplo na sociedade civil? Uma parte da classe média está nas ruas, como em 1964 e 2015? Os golpistas teriam apoio externo, especialmente dos Estados Unidos? O tirano mostrou-se tão inepto e perigoso que assusta até a valorosa classe média brasileira e nossos amigos americanos. Estão todos lustrando suas credenciais democráticas.
A verdade é que Lula leu a conjuntura com maestria. Ele é o líder político mais experiente do Brasil, e um dos maiores do mundo. A frente ampla, que ele vem construindo aos poucos tem a função não só e nem principalmente de angariar votos, mas a de neutralizar o golpismo. Trata-se de uma gigantesca operação tipo “senta que o leão é manso”. Mostrou-se de forma cristalina, mais cristalina impossível, que a escolha não é nada difícil.
Como diria o querido e saudoso João Saldanha. “Estamos na zona do agrião”.
E-mail: magal53@gmail.com
Bem amigas e amigos do Facebook, queridos leitores, 58 dias nos separam da derrocada do tirano e sua derrota, quiçá no primeiro turno.É uma possibilidade, bem sei. Raramente temos base para tal. A única coisa líquida e certa é o presente, e as pesquisas, todas indicam que o tirano será derrotado, talvez já no 1º turno. Até mesmo o passado é uma certeza ilusória, pois vai se modificando de forma imprevisível com o passar do tempo, tempo que não respeita nem o que já aconteceu. Já o futuro está sempre envolto em espessa e impenetrável névoa. Alguns poucos conseguem enxergar para além dessa névoa. Não é o meu caso, infelizmente. O economista, aliás, é o último e mais precário dos profetas, mesmo quando se atém à sua área.
Comprovei, mais uma vez, que o Brasil é a minha grande ilusão. Outro dia, relendo os Essays in Biography de Keynes, trombei com uma observação dele sobre um presidente da França, Georges Clemenceau, com a qual me identifiquei plenamente: “Clemenceau tinha uma ilusão – a França; e uma desilusão – a humanidade, incluindo os franceses”. Importante essa distinção entre o País e seus nacionais, distinção que também fazia De Gaulle. Para um nacionalista só os últimos decepcionam.
Não há dúvida de que o tirano, com a máquina na mão e o Congresso no bolso, tem muita munição. Está se valendo disso sem o mínimo escrúpulo. Cometeu, entretanto, alguns erros, talvez fatais. A PEC eleitoral e do desespero, um grande pacote de transferências sociais, notadamente a duplicação do auxílio Brasil, veio tarde demais, tudo indica. Se tivesse sido aprovada no início do ano, o seu efeito seria certamente muito maior e poderia até ser decisiva para a reeleição do estrupício.
O caminho tentado inicialmente pelo governo, o de reduzir impostos sobre combustíveis, não era tão promissor. O repasse aos preços era incerto e a resistência dos governadores à redução do ICMS dificultava o avanço da proposta. Perdeu-se com isso tempo precioso.
Será mesmo? Arrisco dizer que não há condições para tal. Um golpe tem certos requisitos, requisitos que parecem ausentes na atual conjuntura nacional e internacional. Por exemplo: há apoio amplo na sociedade civil? Uma parte da classe média está nas ruas, como em 1964 e 2015? Os golpistas teriam apoio externo, especialmente dos Estados Unidos? O tirano mostrou-se tão inepto e perigoso que assusta até a valorosa classe média brasileira e nossos amigos americanos. Estão todos lustrando suas credenciais democráticas.
A verdade é que Lula leu a conjuntura com maestria. Ele é o líder político mais experiente do Brasil, e um dos maiores do mundo. A frente ampla, que ele vem construindo aos poucos tem a função não só e nem principalmente de angariar votos, mas a de neutralizar o golpismo. Trata-se de uma gigantesca operação tipo “senta que o leão é manso”. Mostrou-se de forma cristalina, mais cristalina impossível, que a escolha não é nada difícil.
Como diria o querido e saudoso João Saldanha. “Estamos na zona do agrião”.
E-mail: magal53@gmail.com
Tendo chegado tarde, a PEC empurra, na pior das hipóteses, a disputa para um
segundo turno entre Lula e o tirano. Segundo algumas interpretações, é
exatamente o que buscam o presidente e os seus comparsas parlamentares. Sabem
que não há chance de vitória no segundo turno, dada a alta rejeição do
presidente. Mas no segundo turno, especula-se, haveria a oportunidade de tentar
um golpe e melar tudo.
Por
isso, queridos amigos e amigas, muita calma nessa hora. Como time que está com
boa vantagem no segundo tempo da partida, temos que jogar com um olho na bola,
outro no relógio.
E não vamos repetir o erro de comemorar a vitória antes do apito final. O jogo
só acaba quando o juiz apita. Até lá, segure a bola no campo do adversário de preferência.
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