Nas últimas semanas, o governo Bolsonaro voltou a falar em privatizar a Petrobras. Pouco depois de assumir o cargo neste mês, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, apresentou pedido de estudos para a privatização da empresa. Na quinta-feira (26), a ideia foi reforçada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou durante o Fórum Econômico Mundial que a estatal será privatizada caso Bolsonaro seja reeleito nas eleições de outubro. Já nesta sexta-feira (27), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que ou a empresa é privatizada, ou serão necessárias "medidas mais duras".
As declarações vieram acompanhadas de uma nova indicação de Bolsonaro para o comando da Petrobras, apontando para o cargo de presidente o secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Caio Paes de Andrade. A mudança ocorre 40 dias após o último indicado, José Mauro Coelho, assumir a empresa. Bolsonaro tem criticado a estatal devido ao crescente aumento dos preços dos combustíveis, que tem causado problemas à administração.
Um dos aspectos da proposta de privatização e mudanças na Petrobras seria exatamente um aceno de Bolsonaro aos eleitores em relação a esses preços, que têm impulsionado a inflação no Brasil e corroído a renda da população. É o que aponta o economista Eduardo Costa Pinto, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que classifica a proposta de "uma bravata".
"Não há nenhuma possibilidade de o preço dos combustíveis cair com a privatização da Petrobras. Isso é uma falácia, isso é um argumento em abstrato de quem não entende nada da estrutura da cadeia do petróleo, que vai desde a produção e o refino até a comercialização", afirma o economista em entrevista à Sputnik Brasil.
Costa Pinto também ressalta que Bolsonaro tem instrumentos para alterar a política de preços praticada pela estatal ao mudar a composição do conselho administrativo da companhia, que delibera sobre o tema. Ao longo do governo Bolsonaro a Petrobras manteve o chamado preço de paridade internacional (PPI), política que desde a gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) atrela o valor dos combustíveis ao mercado internacional.
"Em 2021, 40% da inflação foram devidos à variação de preços associados aos derivados de petróleo. Durante o governo Bolsonaro, a gasolina subiu 70% e o diesel subiu 90% nas refinarias. É um aumento impressionante. Hoje o gás de cozinha custa R$ 132, em média, no Brasil, quase 10% do salário mínimo", ressalta o pesquisador do Ineep, que estuda a Petrobras de perto e há anos mantém um canal de discussão sobre a economia brasileira.
Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), lembra que a promessa de privatização da estatal é antiga no governo Bolsonaro e que o novo aceno seria uma cortina de fumaça para esconder a responsabilidade do governo em relação aos preços e culpar a Petrobras pela situação. Além disso, Bacelar enxerga uma tentativa de barganha de Bolsonaro com o conselho da empresa.
"Ele [Bolsonaro] sinaliza a esses acionistas minoritários que hoje estão no conselho de administração que ele precisa ter algum tipo de controle dos preços no Brasil devido ao processo eleitoral que se aproxima. O Bolsonaro está completamente desesperado porque sabe bem que esse vai ser um dos temas centrais durante este ano e que vai impactar no resultado eleitoral deste ano", afirma Bacelar.
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