Pastor Milton Ribeiro, ministro do MEC mesmo sabendo das mutretas manteve portas abertas do MEC
Pastor Milton Ribeiro, ministro do MEC (Ministério da Educação), contou que continuou recebendo a dupla de pastores envolvidos na denúncia para não levantar suspeitas de que estavam sendo investigados.
Pastor Milton Ribeiro, ministro do MEC (Ministério da Educação), contou que continuou recebendo a dupla de pastores envolvidos na denúncia para não levantar suspeitas de que estavam sendo investigados. (Foto: EVARISTO SA/AFP via Getty Images)
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse nesta quarta-feira (23) que levou denúncia à CGU (Controladoria-Geral da União) a respeito de uma suposta atuação indevida de pastores no MEC em agosto do ano passado.
Depois disso, no entanto, o ministro ainda encontrou os pastores em ao menos cinco vezes. A agenda oficial de Ribeiro registra outros três encontros do ministro com os pastores em seu próprio gabinete. Realizados ainda em 2021, todos reuniram políticos.
Ribeiro contou a respeito da denúncia em entrevista à CNN e à Jovem Pan e disse que continuou recebendo a dupla para não levantar suspeitas de que estavam sendo investigados.
Desde o começo de 2021, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura promoveram encontros de prefeitos no MEC que levaram a pagamentos e empenhos (reserva de valores) de R$ 9,7 milhões, em apenas dias ou semanas depois de promoverem as agendas.
A reportagem também apurou que o ministro recebeu políticos em sua residência pela intermediação dos pastores, que também estavam no local, no dia 5 de janeiro deste ano. Ministro e pastores ainda estiveram juntos em 11 de março em uma viagem a São Luís (MA), cidade natal.
Neste dia, os pastores participaram de evento oficial "de atendimento do Ministério da Educação e do FNDE a Municípios do Estado do Maranhão" em um hotel da capital maranhense. São Luís é a cidade natal do pastor Gilmar Santos.
As declarações ocorrem em meio a um escalonamento da pressão no meio político e evangélico pela saída do ministro.
O jornal Folha de S.Paulo revelou nesta semana um áudio em que Milton Ribeiro diz priorizar pedidos de amigos de pastores para liberação de verba do ministério. Segundo ele, a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ribeiro disse nesta quarta que recebeu uma denúncia anônima e redigiu ofício encaminhando-a à CGU. Segundo contou, entregou o documento ao próprio ministro Wagner Rosário.
"Com relação aos pastores, que, até o momento eu os respeito. Quero deixar isso claro. (...) No entanto, essa é a notícia principal, quando em agosto do ano passado recebi denuncia anônima a respeito da possibilidade —denúncia anônima é algo muito perigoso para todos nós— a possibilidade de que ele estariam praticando algum tipo de ação não republicana. Essa denúncia chegou ao meu conhecimento, e imediatamente, este é o governo Bolsonaro, procurei a CGU", disse à Jovem Pan.
À CNN Ribeiro citou diretamente o nome de Arilton. Ele faz, contudo, elogios e diz não saber sobre o que "acontecia fora do MEC".
A denúncia de que o pastor teria pedido ouro em troca de recebimento de verbas para obra teria acontecido em um restaurante em Brasília.
"Ele [Wagner Rosário] chegou ao nome de alguns, entre eles o nome do pastor Arilton. Que eu desconheço, porque minha convivência com Arilton foi sempre boa, perfeita. O que acontecia pra fora [do MEC], que ele pediu dinheiro, pediu ouro, essas coisas são novidades. Vim conhecer aqui", disse.
O prefeito Gilberto Braga (PSDB), do município maranhense de Luis Domingues, afirmou nesta quarta-feira que um dos pastores que negociam transferências de recursos federais para prefeituras pediu 1 kg de ouro para conseguir liberar verbas de obras de educação para a cidade.
O pedido teria sido feito pelo pastor Arilton Moura, segundo o prefeito. Arilton e o também pastor Gilmar Santos têm negociado liberações de recursos federais para municípios mesmo não tendo cargos no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Como a Folha de S.Paulo revelou, Ribeiro disse numa gravação priorizar pedidos de amigos de dois pastores para liberação de verba do ministério.
Segundo o próprio ministro, ele estaria atendendo a um pedido do presidente.
Na entrevista à CNN, o ministro da Educação disse que recebeu os pastores a pedido de Bolsonaro, mas que o chefe do Executivo não pediu "tratamento especial".
Ribeiro disse ainda ter recebido ligação do presidente depois que a Folha de S.Paulo publicou o áudio. Segundo o ministro, Bolsonaro disse não ter visto nada demais na gravação e que o ministro ainda gozava de sua confiança.
O gesto de Bolsonaro ocorreu antes da entrevista do prefeito Gilberto Braga, que contou sobre o suposto pedido de propina em ouro.
Já o vice-presidente Hamilton Mourão minimizou o caso na manhã desta quarta. Chamou o ministro de "pessoa honesta" e disse que é preciso aguardar a conclusão do episódio.
Bolsonaro, por sua vez, que viajou na terça para Tocantins e hoje para Pernambuco e Ceará, ainda não se manifestou sobre o caso.
Apesar de não terem qualquer vínculo com a administração pública, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm negociado com prefeituras a liberação de recursos federais para obras de creches, escolas, quadras ou para compra de equipamentos de tecnologia.
Nesta quarta, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu autorização ao STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar Ribeiro.
A PGR também pretende apurar a suspeita de achaque ao prefeito Gilberto Braga, que fez a denúncia sobre o pedido de ouro.
O Tribunal de Contas da União, por sua vez, como revelou a coluna da Mônica Bergamo, aprovou uma fiscalização extraordinária em todos os convênios do Ministério da Educação. A proposta foi feita pelo ministro Vital do Rêgo.
"Nos últimos dias, temos testemunhado a veiculação de diversas notícias acerca de eventuais irregularidades nas transferências de recursos federais do Ministério da Educação (MEC) a municípios, em que a priorização na liberação de verbas estaria sendo negociada por pessoas alheias à estrutura formal daquela pasta, com favorecimento a grupos específicos", diz Vital do Rêgo em seu ofício.
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