PF aponta atuação orquestrada de milícias digitais bolsonaristas na produção de fake news

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PF aponta atuação orquestrada de milícias digitais bolsonaristas na produção de fake news
 Imagem: João Montanaro

BRASÍLIA (Reuters) - Relatório parcial da Polícia Federal no inquérito das milícias digitais aponta a existência de uma ação orquestrada de bolsonaristas, dentro e fora do Palácio do Planalto, na criação e divulgação de notícias falsas e que envolvem o chamado "gabinete do ódio", apoiadores fora do governo e chegam até mesmo ao próprio presidente Jair Bolsonaro.
O relatório, enviado na quinta-feira ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pela delegada do caso, Denisse Ribeiro, informa que as investigações até agora corroboram a hipótese de uma "atuação orquestrada" de um grupo de bolsonaristas para definir alvos, criar e difundir notícias falsas com o objetivo de conseguir "ganhos ideológicos, político-partidários e financeiros".
PF aponta atuação orquestrada de milícias digitais bolsonaristas na produção de fake news
"Identifica-se a atuação de uma estrutura que opera especialmente por meio de um autodenominado 'gabinete do ódio': um grupo que produz conteúdos e/ou promove postagens em redes sociais atacando pessoas (alvos) --os 'espantalhos' escolhidos-- previamente eleitas pelos integrantes da organização, difundindo-as por múltiplos canais de comunicação, em atuação similar à já descrita outrora pela Polícia Federal, consistente no amplo emprego de vários canais da rede mundial de computadores especialmente as redes sociais, com eliminação de intermediários", diz o relatório.
A ação, aponta a delegada, tem algumas características: são feitas simultaneamente por vários canais e vindas de várias fontes diferentes, com postagens feitas de maneira rápida, contínua e repetitiva, sem compromisso com a verdade e nem mesmo com a coerência.
Os ataques, além dos meios de comunicação tradicionais, são especialmente voltados a diversas pessoas vistas como antagonistas ou dissidentes do grupo.
O relatório aponta que as ações analisadas em conjunto permitem identificar que há uma estrutura montada, com objetivos claros e papéis definidos para cada um de seus membros, "os quais são até aqui indicadores de uma atuação orquestrada, que pratica os fatos descritos com o propósito de difundir os ataques e/ou desinformação, criando ou deturpando os dados para obter vantagens para o próprio grupo ideológico e auferir lucros diretos ou indiretos por canais diversos".
"Para além de uma relação de causa e consequência e de suas repercussões criminais, o que distingue as condutas sob apuração da mera manifestação de opinião é o nítido propósito de manipular a audiência distorcendo dados, levando o público a erro e induzindo-o a aceitar como verdade aquilo que não possui lastro na realidade. Reforça essa afirmação a existência de informações indicadoras do uso de contas inautênticas automatizadas em massa (robots) para potencializar o alcance das mensagens difundidas", continua a delegada.
Entre as ações citadas como exemplo está a campanha massiva em defesa do uso de medicamentos ineficazes contra a Covid-19, como a hidroxicloroquina, e a montagem de dossiês contra antagonistas.
O relatório aponta ainda a relação entre as investigações contra Bolsonaro e a atuação das milícias digitais. A delegada inclui no escopo da investigação os inquéritos em que o presidente é investigado pela live em que Bolsonaro questiona a segurança das urnas eletrônicas e o vazamento do investigação da PF sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
"Como dito, todos esses eventos possuem correlação e revelam semelhança no modo de agir, bem como aderência ao escopo descrito na hipótese criminal apresentada" diz o relatório.
Esta semana, o ministro Alexandre de Moraes autorizou que Bolsonaro passasse a ser investigado neste inquérito sobre as milícias digitais e autorizou o compartilhamento de provas obtidas na investigação sobre o vazamento do inquérito sobre o ataque hacker no TSE com esta investigação.
No relatório, Denisse Ribeiro ressalta que o conjunto de provas reunidas até agora sustentam a hipótese de crime, mas avalia que lacunas ainda precisam ser preenchidas e novas diligências precisam ser feitas para mostrar a responsabilidade de cada investigado. A delegada, que irá sair de licença a partir do dia 14, sugere a indicação de um delegado substituto para continuar a investigação.
O inquérito das milícias digitais foi aberto pelo STF em julho do ano passado, na sequência do pedido de arquivamento da investigação sobre atos antidemocráticos feito pelo Procurador-geral da República, Augusto Aras.
Com o pedido feito pelo PGR, Alexandre de Moraes, ministro relator da investigação, fez o arquivamento mas determinou a investigação das milícias, com o compartilhamento das provas obtidas na primeira investigação.
Procurada, a Presidência da República não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre o relatório da Polícia Federal.



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