Em depoimento ao MP, ex-cunhada de Bolsonaro invoca direito ao silêncio
A fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), atendeu a uma convocação para depoimento do MP-RJ (Ministério Público do Rio) no dia 7 de outubro, mas invocou direito ao silêncio ao ser questionada pela promotoria.
Ela foi chamada para prestar esclarecimentos no caso que apura entrega ilegal de salários, conhecida como rachadinha, e a nomeação de funcionários fantasmas no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
"Informada de seu direito ao silêncio, manifestou que no presente momento se reserva o direito de permanecer em silêncio", informou Andrea, sem seu depoimento. O pedido foi feito porque a defesa pediu acesso aos dados da quebra de sigilo bancária e fiscal, autorizada pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital em maio deste ano, e o juiz responsável ainda não analisou o pedido.
No depoimento ao MP, Andrea estava acompanhada do advogado Marco Túlio Éboli, que já atuou na defesa do ex-secretário de Saúde do Rio Edmar Santos, preso durante as investigações sobre desvios na Saúde durante a pandemia em 2020. A coluna procurou Éboli para saber detalhes da defesa de Andrea, mas o defensor informou que, devido ao sigilo imposto na investigação, ele não poderia comentar detalhes do caso.
A coluna também questionou como ocorreu a contratação e como Andrea está custeando a defesa já que ela está vivendo em Juiz de Fora, em Minas Gerais, e possui muita dificuldade financeira. Andrea está sem emprego fixo e vive de bicos como diarista e auxiliar de serviços gerais. O advogado disse que não poderia responder porque as informações fazem parte do sigilo profissional com sua cliente.
A vida secreta de Jair, nas quais a fisiculturista admitiu que devolvia 90% de seu salário quando foi nomeada no gabinete de Flávio Bolsonaro, de 2008 a 2018. Ela é irmã de Ana Cristina Valle, segunda mulher do presidente Jair Bolsonaro e mãe de Jair Renan Bolsonaro.
Nos áudios, Andrea contou ainda que Jair Bolsonaro demitiu um irmão dela chamado André Siqueira Valle porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário de assessor do então deputado federal. A fisiculturista foi a primeira dos 18 parentes da família Siqueira-Valle que foram nomeados em um dos três gabinetes da família Bolsonaro (Jair, Carlos e Flávio) em algum momento de 1998 a 2018.
Apesar das nomeações, Andrea foi funcionária fantasma da família Bolsonaro por 20 anos. Primeiro, ela também constou como assessora de Jair Bolsonaro de 30 de setembro de 1998 a 7 de novembro de 2006. Depois, ela foi para a Câmara de Vereadores do Rio em 8 de novembro de 2006 e lá permaneceu até setembro de 2008. Depois disso, foi nomeada no gabinete de Flávio Bolsonaro onde permaneceu até agosto de 2018. No último ano em que esteve nomeada, o salário bruto da Andrea era de R$ 7.326,44, fora os benefícios recebidos.
Além do caso de Carlos, Andrea também é um dos alvos da investigação no caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ela também teve o sigilo bancário e fiscal quebrado a pedido do MP-RJ, anteriormente. Segundo o MP, ela recebeu líquido entre 2008 e 2018, período de nomeação só na Alerj, um total de R$ 674,9 mil. Desse total, ela sacou no período 98%, o que equivale a R$ 663,6 mil. Os dados dessa quebra, porém, foram anulados em fevereiro pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
No caso de Carlos, Andrea é uma investigada em um dos seis grupos que, para o MP, configuram uma possível organização criminosa. Ana Cristina foi chefe de gabinete entre 2001 e 2008, período da nomeação de André. Por isso, ela também é investigada como uma das operadoras do esquema
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