A ida do deputado Marcelo Freixo para o PSB e a filiação do governador do Rio, Cláudio Castro, ao PL movimentaram as peças do jogo eleitoral de 2022 com vistas ao Palácio Guanabara e reforçaram a tendência de o Rio reproduzir a polarização já prevista para o pleito nacional.
Para aliados de Freixo, Castro se configurou como o rival ideal para a esquerda: apresenta-se como o nome do presidente Jair Bolsonaro, tem um mandato vulnerável a críticas, abraçou um discurso conservador e foi eleito com Wilson Witzel, ex-governador que sofreu impeachment sob suspeita de corrupção.
No grupo de Castro, o sentimento não é diferente em relação a Freixo. Seus interlocutores preparam uma pauta de costumes para levar à campanha, na tentativa de relacionar o deputado que deixou o PSOL ao ex-presidente Lula, que lhe dá o apoio do PT, e a temas polêmicos contrários ao discurso conservador.
Castro busca marca
A polarização e a troca de ataques não esperaram a campanha oficial. O governador intensificou sua exposição em eventos oficiais e nas redes sociais — aliados têm pesquisas que mostram Castro ainda como uma imagem desconhecida na maior parte do estado. Nos discursos, o governador reforça parcerias com o Planalto, levanta temas conservadores e que agradam aos bolsonaristas, como segurança pública, e mira em Freixo.
— A segurança pública é prioridade. Depois de uma operação feita para cumprir mandados judiciais, eles (políticos de esquerda) acham que vão meter medo em nós, com pedidos de CPI e impeachment. Marcelo Freixo e a sua trupe do PSOL, podem pedir quantos impeachments quiserem, a polícia fará o seu trabalho. Nossa missão é libertar o nosso povo. Inclusive de vocês. Não adianta tentar antecipar 2022 — disse Castro em defesa da polícia após a operação na Favela do Jacarezinho, em maio, que deixou 28 mortos.
Em outro embate, dias antes, Freixo usou redes sociais para disparar diretamente contra Castro, com críticas à condução do combate à pandemia por ele e por Bolsonaro.
“Cláudio Castro, covardia é ser submisso a Bolsonaro e impor ao RJ a política negacionista do presidente. 696 doentes estão à espera de um leito de UTI no Estado enquanto você faz festinha de aniversário. 411 pessoas morreram ontem. Abrir leito é sua obrigação como governador. Você está de joelhos para a família Bolsonaro porque tem medo das investigações do Ministério Público por suspeita de receber propina num contrato milionário de tratamento oftalmológico para pessoas de baixa renda”, escreveu Freixo. O governador nega qualquer irregularidade.
Segundo o presidente regional do PL, deputado federal Altineu Côrtes, a estratégia eleitoral de Castro passa por pautas de costumes, aproximação com Bolsonaro e busca por alianças, além de marcas de sua gestão— uma cobrança dos aliados. O discurso conservador busca reforçar laços com o eleitorado evangélico (embora Castro seja católico) e mira em Freixo. Já um pacote de bondades, com obras e programas, tenta solidificar o apoio de prefeitos e parlamentares. Castro pretende anunciar, entre outros projetos, 20 restaurantes populares, revitalização de 50 Cieps e incentivos à indústria naval.
— Nosso posicionamento já atraiu ao menos 80 prefeitos (de um total de 92 municípios fluminenses), mais o apoio de Patriota, PP, PSL, Solidariedade, DEM, PSDB, MDB, Podemos, Avante, PSC, DC e PTC — contabiliza Côrtes.
Para o senador Carlos Portinho (PL-RJ), mesmo cedo, a polarização nacional ganhou força e existe forte probabilidade de pautar um discurso ideológico e plebiscitário:
— No Rio, a discussão vai passar por propostas de trabalho, dado o histórico de problemas dos governos que antecederam o de Cláudio Castro. Mas isso não impede que a discussão ideológica também ganhe força nos palanques.
Esquerda comemora
A esquerda comemora a polarização. Segundo alguns caciques, há o desejo de uma aliança ampla — como costura Castro na direita —, para trazer siglas do centro e eleitores indecisos ou arrependidos do voto em Bolsonaro. Mas isso tem complicado os planos iniciais. Para petistas do Rio, a princípio o PSB apostaria no deputado Alessandro Molon para o Senado, mas, para aderir a Freixo, é bem provável que partidos de centro queiram mais que a vice na chapa. Uma ideia é oferecer a vaga para Felipe Santa Cruz, aposta do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), ao Guanabara.
Deixe sua opinião