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Mãe de Henry admite ‘versão inventada’ sobre morte do filho


Mãe de Henry admite ‘versão inventada’ sobre morte do filho

 Em uma nova carta escrita por Monique Medeiros da Costa e Silva, mãe do menino Henry Borel Medeiros, de 4 anos, morto em 8 de março, a professora afirma ter combinado com o namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), uma “versão inventada” sobre a morte do filho. O documento, de 21 páginas, foi divulgado ontem pelo “Fantástico”, da TV Globo.

Segundo Monique, a versão contada sobre o que aconteceu naquela madrugada no apartamento que os três dividiam, num condomínio da Barra da Tijuca, teria sido uma orientação do advogado André França Barreto, que defendia o casal no inquérito em que são acusados de homicídio duplamente qualificado. Eles estão presos, temporariamente, há 26 dias pelo crime.

Na carta, Monique diz que, num primeiro momento, acreditou na narrativa de Jairinho de que o filho havia sido vítima de um “acidente doméstico”. “Não passava pela minha cabeça a hipótese de um ser humano espancar uma criança que dorme, na minha cabeça isso era incabível, impossível de acontecer”, escreveu. A professora disse que, ao tomar conhecimento do depoimento de uma ex-namorada do vereador à polícia, em que a cabeleireira relatou que sua filha mudou o comportamento ao conhecer o político, “ele foi se tornando um desconhecido” para ela.

Monique diz, ainda, que considerou o fato de Jairinho ter “tentado desqualificar” a mulher com supostas testemunhas para parecer que ela estava mentindo. Sobre a outra ex-namorada do vereador, que também compareceu à delegacia e narrou agressões a ela e ao filho por parte do vereador, a professora escreveu que o namorado disse que se tratava de uma pessoa que “mendigava por dinheiro há anos”, “era maluca”, “tinha oscilações de humor” e “só queria extorqui-lo”. “O que elas relatavam fazia sim sentido e era verdade, pois eu estava passando por muitas situações parecidas com as delas”, escreveu.

Um advogado ‘religioso’

A professora relatou que, no dia seguinte ao enterro do filho, no Cemitério do Murundu, em Realengo, ela estava na casa do sogro, o policial militar e deputado estadual Jairo de Souza Santos, o Coronel Jairo (MDB), quando recebeu a visita de André. O advogado teria se apresentado dizendo ser casado, pai de quatro filhos, religioso — e que inclusive teria estudado para ser padre, e alegado “não pegar casos de homicídios se não acreditasse na inocência de seus clientes”.

Monique disse que foi separada do namorado e questionada sobre a época em que conheceu o ex-marido, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, sobre a gravidez, a separação, o início “conturbado” do namoro com Jairinho e a morte de Henry. No dia seguinte, André teria ido novamente até a residência da família, segundo a professora, para informar que “só aceitaria o caso” se eles se “unissem”. “Não poderia haver mais de uma versão e não poderia haver divergência”. Mesmo depois de questionar por que não poderia dizer “o que realmente tinha acontecido, já que tinha sido um acidente doméstico e Jairinho que lhe acordou”, ela diz ter aceitado, justificando não ter dinheiro para arcar com os custos de uma defesa, tendo que ficar “sozinha, abandonada e desassistida”.

Treinos todos os dias

Monique relatou que não ficou “satisfeita”e que teria dito que “falaria a verdade”, pois não via “problema algum”, já que “não estaria acusando ninguém”. Ela conta que, a partir dali, o advogado começou a fazer “um monte de pedidos”, inclusive para que todos os dias ela e Jairinho fossem “treinar” com ele, “quase de maneira insana, uma nova versão dos fatos inventada por ele”.

“Eu estava desolada, sem direção, sem rumo, fragilizada, violentada e sem poder sofrer a perda do meu filho, de maneira humanizada”, escreveu na carta. No depoimento que prestou ao delegado Henrique Damasceno, titular da 16ª DP, na Barra, Monique contou, em 8 de março, que assistia a uma série na TV por volta de 3h30, quando ela o acordou. O vereador teria ido ao banheiro e ela, ao chegar ao cômodo onde Henry dormia, encontrou a criança caída, com mãos e pés gelados, olhos revirados e sem responder ao seu chamado.

No depoimento, Monique disse ter gritado por Jairinho, que foi imediatamente ao cômodo. Eles teriam se arrumado rapidamente e se dirigido para o Hospital Barra D’Or. No caminho, a professora disse ter feito respiração boca a boca na criança, depois de orientação do parlamentar. Ao chegar à unidade de saúde, ela contou ter gritado pedindo ajuda, tendo recebido atendimento de várias pessoas imediatamente.

Na ocasião, questionada se havia lido o laudo com a causa da morte de Henry, Monique afirmou acreditar que ele pudesse ter acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão. O exame de necropsia feito no corpo do menino apontou hemorragia interna e laceração hepática, provocada por ação contundente, além de equimoses, hematomas, edemas e contusões não compatíveis com um acidente doméstico.

Em nota, André França Barreto disse que a defesa “sempre pautou a sua atuação pela ética e pela técnica, jamais alterando a narrativa apresentada pelo casal, desde o início e de forma única”. “Adotamos, inclusive, a investigação defensiva, para verificar e dar visibilidade ao que o casal afirma”, informou o advogado.



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