Uso de medicamentos sem comprovação científica é uma das fake news mais comuns. Este é um dos fatores que afetam a saúde física e emocional de quem está na linha de frente do combate à pandemia.
Mais de 90% dos médicos brasileiros avaliam que as fake news atrapalham o enfrentamento da Covid. Este é um dos fatores que afetam a saúde física e emocional deles.
Quando a pandemia chegou ao Brasil, em fevereiro do ano passado, o infectologista Mário Gonzalez se viu diante de um desafio. Mas não esperava que fosse tão grande. “É uma corrida que a gente imaginava que fosse ser uma corrida de 5 quilômetros e a gente já tá partindo para ultramaratona”, afirma.
Ele é um dos diretores do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. “Tenho equipes aqui que estão desde o início da pandemia sem arredar pé, atendendo pacientes Covid, com enfermarias lotadas e com bastante trabalho para ser feito. Isso tem sido bastante, assim, intenso”, conta.
Não são só estas equipes que estão exaustas. Uma pesquisa feita pela Associação Médica Brasileira, com quase 4 mil médicos de todas as regiões do país, revelou que 92% conhecem colegas com sintomas de ansiedade, estresse, sensação de sobrecarga ou exaustão física e emocional.
Os médicos estão exaustos e as pessoas muito cansadas do isolamento. Quem não dá o menor sinal de cansaço é o coronavírus. A pesquisa revela que mais de 80% dos profissionais consideram que estamos vivendo uma segunda onda da pandemia, tão ou mais grave do que a primeira.
O infectologista Eduardo Medeiros, do Hospital da Universidade Federal de São Paulo, viu cinco médicos morreram de Covid. Em décadas de profissão, já viveu várias epidemias, mas nenhuma como esta.
“É a primeira pandemia que nós estamos nas redes sociais, em toda a atividade. Fomos bombardeados, principalmente os médicos, de informações falsas. Esse discurso de drogas milagrosas, eles foram muito impactantes. Porque mexe com o emocional das pessoas”, acredita.
Nove em cada dez médicos acreditam que as fake news e a desinformação prejudicam o trabalho, e o presidente da Associação Médica Brasileira, César Eduardo Fernandes, destaca que não são só as informações mentirosas que atrapalham o combate à Covid.
“Nós temos duas fontes de informações que eu acho que confundem a população, e os médicos não ficam à margem disso: a primeira são as fake news e a segunda são as informações desencontradas, especialmente dos gestores públicos. Também dos privados, em Saúde. Quando eu falo gestores públicos, falo nas diferentes esferas - na esfera federal, na esfera estadual e na esfera municipal. São informações desencontradas e, muitas vezes antagônicas, em relação a uma linha de conduta, em relação a um determinado tratamento farmacológico, isso confunde a população”, explica.
Muitos pacientes chegam exigindo tratamentos de que ouviram falar, sem comprovação científica. O doutor Mario lembra que a prevenção da Covid é com máscara e distanciamento, não com medicação.
“É lamentável. Isso é uma das coisas que mais nos exaure - é que, apesar de todos os esforços da ciência em encontrar respostas, nós encontramos ainda pessoas que negam a existência da pandemia, que negam a importância do distanciamento social e que ainda espalham fake news sobre tratamentos que já são comprovados que não funcionam, como cloroquina, a ivermectina. Então, a gente vê que isso atrapalha o cuidado verdadeiro à população”, lamenta.
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