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Região dos Lagos tem apenas 56 leitos de UTI para Covid-19 disponíveis para nove municípios



Região dos Lagos tem apenas 56 leitos de UTI para Covid-19 disponíveis para nove municípios
Foto: Arena Sec Costa Azul

Se somados os leitos de UTI de Araruama, Cabo Frio, Rio das Ostras e Saquarema, a taxa de ocupação deles, até esta sexta-feira, era de 68%. No entanto, o índice, levando em consideração os pouco leitos de terapia intensiva disponíveis, pode enganar, já que, na prática, apenas 19 leitos estavam vagos. Rio das Ostras é a cidade com a situação mais delicada: todas as 11 vagas de terapia intensiva, até esta sexta, estavam ocupadas, com apenas três leitos de enfermaria disponíveis.

Levantamento feito com base em dados do próprio estado, mostra que o cenário tem origem em números minguados da Saúde pública. Com 770 mil habitantes, a Região dos Lagos tem poucos leitos na rede pública, sendo apenas 56 deles de UTI, necessários para pacientes graves de Covid-19. Ao mesmo tempo, há pouca oferta de serviço de saúde privado para atender em grande escala. Búzios, Arraial do Cabo, Casimiro de Abreu e Iguaba Grande não possuem sequer uma vaga de terapia intensiva exclusiva para coronavírus.

O alerta para o risco da falta de leitos em municípios do interior foi dado ainda no início do mês pela Fiocruz. Os pesquisadores perceberam que houve o fim do ciclo de interiorização da doença, já que todos os municípios do país já registraram casos de Covid-19. A sincronia de aumento de casos nas regiões metropolitanas e no interior, avaliam os cientistas, pode contribuir para aumentar o risco de superlotação de hospitais e de desistência da população.

Incertezas à beira-mar

Búzios, que nos últimos dias teve lockdown exigido pela Justiça e depois revertido em nova decisão, não é a única cidade da Região dos Lagos que trocou os tempos de diversão pela cada vez mais difícil luta contra a pandemia de Covid-19. Além da judicialização das medidas sanitárias — nesta sexta, a Defensoria Pública avisou que recorreria para restabelecer o fechamento do balneário mais badalado da área —, os municípios vizinhos vivem três situações que dão a dimensão do clima tenso que paira sobre moradores, assustados com a falta de leitos, e visitantes que, apesar dos riscos, insistem em manter as reservas de veraneio, férias e réveillon.

Enquanto turistas não param de chegar, nesta sexta-feira, em Cabo Frio, o secretário de Fazenda, Bruno Aragutti, de 50 anos, morreu após ser internado com coronavírus. Na divisa ao sul, em Arraial do Cabo, o prefeito Renato Vianna Filho (Republicanos) foi afastado por desmonte de barreira sanitária e de equipes médicas. E, em Rio das Ostras, onde alguns visitantes foram buscar refúgio, as taxas altíssimas de ocupação de leitos levou a cidade a fechar nesta sexta suas praias e a proibir as celebrações de Ano Novo.

Briga judicial

A defensora pública Raphaela Jahara, do 3º Núcleo de Saúde e Tutela Coletiva, entrou com ações junto às 13 cidades da Região dos Lagos, pedindo a elaboração de Planos de Contingência contra a Covid-19. Em todas elas, conseguiu liminares exigindo a abertura de leitos e a realização de testes. Em Búzios, o único município que assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Defensoria, o descumprimento do acordo ficou tão gritante que o juiz Raphael Baddini de Queiroz, da comarca do município, decretou o fechamento geral da cidade após fazer uma inspeção e constatar a existência de uma dúzia de leitos diante de um crescimento de 3.755% de casos da doença em apenas uma semana. Nesta sexta-feira, o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Claudio de Mello Tavares, derrubou a liminar, a pedido da prefeitura, e a cidade foi autorizada a reabrir. Na quinta-feira, houve um protesto na porta do fórum local contra a medida.

— A Defensoria está avisando sobre um possível colapso desde abril. Rio das Ostras está sem leito de UTI, e o prefeito de Arraial do Cabo foi afastado (por ação do Ministério Público) porque sumiram com tudo, não há remédios nos hospitais, e a barreira sanitária foi fechada — disse a defensora.

A escalada de internações em Rio das Ostras foi rápida. No dia 26 de novembro, a cidade tinha 42,5% dos leitos clínicos do hospital de campanha ocupados, e 90% das UTIs. Esses índices agora são, respectivamente, de 90% (29 de 32), e 100% (as 11 unidades de terapia estão com doentes). Além disso, há 15 pacientes internados com Covid-19 em leitos da rede privada.

Com 150 mil habitantes, a cidade já tem 3.627 casos de Covid-19 e 112 óbitos, segundo a prefeitura, o que representa, somente no início deste mês, uma alta de 25% no total de infectados e de 16% nos óbitos. Ao decretar bandeira vermelha, a de mais alto risco de contágio, a prefeitura de Rio das Ostras fechou a orla e impôs restrições a festas, bares e restaurantes, alegando que tenta “evitar um colapso total da rede municipal de saúde” que já está no limite. O decreto é válido até 15 de janeiro. Os estabelecimentos da área gastronômica, importante para a economia do município, não poderão funcionar nos dias 24, 25 e 31 de dezembro e a rede de hoteleira terá que operar com 30% da capacidade. Procurada, a prefeitura respondeu que não vai adotar barreiras sanitárias, porque seria necessária uma ampla estrutura de fiscalização já que a cidade tem 18 acessos.

Dono de uma pousada e de uma empresa de turismo em Arraial do Cabo, Maicon Victorino diz que os empresários estão unidos para que as regras de ouro sejam aplicadas:

—Estamos em campanha pelos protocolos para que Arraial do Cabo não precise de lockdown. Como Búzios está caótico, acabou respingando em outras cidades próximas.

Antes da morte do secretário de Fazenda, Bruno Aragutti, Cabo Frio havia proibido city tours e passeios turísticos de barcos. O mesmo decreto limitava a ocupação dos hotéis e pousadas a 50% da capacidade. Mas a medida só vale até segunda-feira. Ninguém sabe como ficará depois.

— Não haverá festas na orla, e estamos negociando com os hotéis para que não façam comemorações. Mas tínhamos um decreto anterior com validade até 31 de dezembro que permitia 90% de ocupação. Está complicada a comunicação com a prefeitura — afirmou Carlos Cunha, presidente da associação de hotéis do município.

Presidente da Federação de Convention & Visitors Bureau do Estado e do Conselho Regional de Turismo da Costa do Sol, Marco Navega diz que a previsão é que a rede hoteleira do interior do estado chegue a uma ocupação entre 90% e 95% no fim do ano. Ele defende a estrutura montada:

— As cidades da Região dos Lagos estão preparadas, o comércio segue as regras. Todos sabemos a gravidade do momento que estamos vivendo.




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