Nele, três políticos do mesmo partido do deputado, o Patriotas, comentavam o debate. Eram eles, Robinho Nunes, Tiago Pavinatto e Fernando Holiday, candidatos ao posto de vereador em São Paulo (o último tentando a reeleição). Durante a transmissão da Cultura, os candidatos ficavam em uma tela menor, silenciada e, nos intervalos, falavam sobre os destaques dos blocos.
Logo no primeiro bloco, quando a deputada e candidata à prefeitura Marina Helou, da Rede Sustentabilidade, apareceu, foi possível ver Nunes e Pavinatto fazendo imitações dela por causa da movimentação das mãos. Porém, foi um trecho do segundo bloco que realmente chamou a atenção.
Enquanto Marina respondia uma pergunta de Celso Russomanno (Republicanos) sobre a população de rua de São Paulo, os três homens davam risada e então Tiago Pavinatto faz movimentos com a língua, gesto que insinua sexo oral.
A atitude foi considerada mais uma demonstração da violência política de gênero que afeta as mulheres historicamente. Para a candidata Marina, que a atitude não a surpreendeu, pois essa é a experiência comum da mulher na política.
“Ainda estamos analisando o que vamos fazer em relação à isso, mas, mais importante do que o que eu vou fazer individualmente é pensarmos numa mudança estrutural e sistêmica da política e, para isso, precisamos eleger mais mulheres”, afirmou. Ela ressalta que esse comportamento não está limitado a nenhum espectro político, lembrando que Joice Hasselmann (PSL), também candidata à prefeitura, já foi vítima.
Segundo Marina, essa não é a primeira vez que precisa lidar com uma situação do tipo, mas que sempre escolheu responder trabalhando pela presença de cada vez mais mulheres em espaços políticos de decisão e batalhando por suas propostas e crenças. “Às vezes bate vontade de desistir, mas não podemos ceder”, completa.
O candidato Arthur do Val respondeu a reportagem alegando que Pavinatto estava conversando sobre outro assunto com o Holiday. “Ele fez um gesto até infantil, mas não tinha nada a ver com a Marina e o que ela estava falando, mesmo porque ele é gay e essa parte ninguém fala. O Fernando também é homossexual. Não foi em nenhum momento um gesto sexual. Era um comentário fora do assunto do debate que acabou pegando nesse momento”, explica.
O deputado alega que não teve como fazer intervenção no momento porque estava no debate, porém não considera que o assunto seja tão relevante. “As pessoas estão interpretando do jeito errado. É tempestade em copo d’água. A pessoa, infelizmente, não tem argumento contra uma candidatura que se opõe às ideias dessa turma e fica procurando pelo em ovo”, adicionou.
Em Porto Alegre, outro caso de violência sexual
Na mesma noite, aconteceu também o debate entre candidatos à prefeitura de Porto Alegre, pela Rádio Gaúcha. O deputado estadual e candidato Rodrigo Maroni (Pros), utilizou o tempo de pergunta para a candidata Juliana Brizola (PDT) para se referir a Manuela D’Ávila (PCdoB).
“Juliana, as mulheres sempre foram referência na minha vida. (…) Na minha opinião, a divisão não pode ser entre mulheres que se defendem por serem mulheres, mas entre mulheres que são corretas e aquelas que mentem”, falou.
Juliana respondeu que era importante falar sobre a participação feminina na política, porque, apesar de as mulheres serem maioria no eleitorado, isso não se reflete nos postos públicos. Na réplica, Rodrigo falou: “Eu afirmei nessa eleição que Manuela mentia, que ela dissimulava e mentia. Reitero isso. Ela inclusive te processou. Ela tratava a Fernanda (Melchionna, candidata do PSOL) dizendo: ‘Isso aí virou vereadora’. O que tu acha da pessoa que se vitimiza e diz: ‘Ele tá sendo machista‘?
Manuela teve direito de resposta por causa da citação ao nome dela. Ela afirmou que, em dezembro, Rodrigo terá que responder legalmente pelas ofensas e declarações falsas contra ela feitas no debate anterior. “Na última quinta-feita, nós derrubamos 529 mil notícias falsas que estão circulando na internet. A eleição não pode ser resolvida no tapetão, com mentiras e com esses ataques orquestrados contra mim”, disse.
Os ataques continuaram. Em uma conversa sobre direitos dos animais, Maroni disse: “Eu quero afirmar que eu não contei nem 5% do que eu sei da Manuela. Mas em consideração à tua filha eu não falei, Manuela. Manuela obteve outro direito de resposta: “Eu quero dizer a todas as ouvintes e ouvintes que sinto muito que vocês estejam sendo vítimas dessa campanha com tanto ataque, mentira, desqualificação e machismo. Isso é violência política de gênero.”
No segundo bloco, a candidata Fernanda Melchionna usou seu tempo de resposta para uma pergunta de ouvinte para manifestar sua indignação: “Como mulher, estou me sentindo ofendida com a forma como Maroni está se referindo à Manuela e às mulheres. Divergência política é uma coisa, machismo é outra. (…) Lugar de mulher é onde ela quiser. Porto Alegre não merece essa baixaria”.
Posteriormente, Maroni ainda usou um tempo de pergunta para questionar Fernanda sobre as divergências dela com Manuela. Fernanda respondeu e novamente se posicionou contra o machismo do candidato: “eu tenho muitas divergências com Manuela. (…) Eu fiz uma oposição a ela. (…) Mas o que tu tá fazendo com ela sistematicamente é machismo e eu não posso me calar. (…) Eu quero discutir com Manuela minhas divergências programáticas. (…) Pelas mulheres, para com isso.”
Rodrigo ainda acrescentou em outro momento que Manuela seria uma “patricinha mimada que podia estar indo ao shopping comprar uma bolsa”: “Tu podia estar indo no shopping, mas resolveu ser prefeita”.
Manuela encerrou o debate com a seguinte declaração: “Como vocês acompanharam nesse debate, não é fácil ser mulher na política, mas não precisava ser tão difícil. Nós enfrentamos uma campanha com ataques, mentiras, e até com candidato que tenta vencer no tapetão”.
Procurada por CLAUDIA, Manuela afirmou que existe uma ação orquestrada de violência política contra ela e um silêncio cúmplice daqueles que se beneficiam com isso. “Isso afeta todas as mulheres emocionalmente. Eu vi isso ontem. Elas ficam com medo de se expor como eu me exponho”, falou. Manuela ainda acrescentou: “Os homens não têm esse problema, eles debatem as ideias deles, o passado político deles. A gente precisa falar sobre violência política de gênero, estabelecer critérios claros para impedir que isso aconteça em debates públicos, senão teremos menos mulheres na política e não mais”.
O deputado Maroni disse que sempre militou ao lado de mulheres e em defesa das mulheres e ressaltou que os questionamentos feitos durante os debates foram legítimos. “A única questão que diferencio é que as pessoas não podem se vitimizar e, quando vão para uma eleição para prefeito, precisam debater de igual para igual”, afirmou.
“Não tem nada de problemático no que eu falei. Até porque, se alguém quiser me confrontar, me confronta. E assim todos os homens e mulheres que se dispõem a um cargo público. Tem que ter a liberdade de expressão para jamais a gente poder deixar de falar. Ou então tu não pode questionar ou indagar nenhuma candidata mulher”, seguiu ele, que afirmou que está acostumado a ser chamado de machista. “Não tenho problema nenhum com amor e ódio, são sentimentos humanos importantes. Eu que defendo os animais vivo todo dia isso. Só que se colocar atrás de uma bandeira para jamais ser questionado é muito fácil. É a mesma coisa que eu disser que alguém que me questiona está batendo em animais”, declarou.
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