Em seu discurso na 75ª Assembleia Geral da ONU, feito na
manhã desta terça-feira, 22, além de culpar os indígenas pelas queimadas na Amazônia, e se eximir da responsabilidade das mais de 137 mil mortes pela covid-19 no país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mostrou que conhece muito pouco do Brasil e fez um apelo contra aquilo que chamou de “cristofobia”.
“A liberdade é o bem maior da humanidade. Faço um apelo à toda comunidade internacional: pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia (…) O Brasil é um país cristão e conservador, e tem na família a sua base. Deus abençoe a todos”, disse o presidente no encerramento de seu discurso.
Ao todo, o disque 100 registrou 506 casos de discriminação religiosa no país em 2018, sendo que 72 foram contra pessoas da umbanda, 47 contra pessoas do candomblé e 28 que se identificam como “religiosos de matriz africana”. Isso representa mais de 30% dos casos de discriminação religiosa naquele ano. Porém, de acordo com o Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os brasileiros que seguem alguma religião de matriz africana representam menos de 0,5% da população total (588.797 pessoas, de um total de 190.755.799).
Ou seja, como menos de 0,5% da população pode tomar para si mais de 30% de todas as denúncias de intolerância religiosa e ainda assim o presidente não enxergar que não se trata de uma suposta “cristofobia”, mas de um preconceito claro e explícito contra, essencialmente, religiões que não seguem justamente a filosofia cristã?
Ainda segundo o relatório do Ministério presidido por Damares Alves, 23 pessoas de segmentos evangélicos denunciaram casos de intolerância contra elas em 2018, o que representa 4% do total de casos. Segundo o Censo 2010, há 42.275.440 evangélicos no Brasil, cerca de 22% da população brasileira.
Os números são claros e não mentem. Inclusive, linkamos ao longo do texto a fonte oficial para cada um dos dados, para que não haja confusão. Bolsonaro falou de “cristofobia” na ONU, mas sequer mencionou os tristes dados de intolerância contra religiosos de matrizes africanas no Brasil.
Com a crescente bancada evangélica no Congresso Nacional, ficam claras as motivações do presidente em esconder a verdade de seu discurso.
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