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Foco do Planalto é enfraquecer Moro

Foco do Planalto é enfraquecer Moro

Bolsonaro vê o ex-ministro como um empecilho à reeleição, e rivalidade entre os dois tem se acirrado. STF e PGR são considerados aliados na meta de inviabilizar o rival.


Mesmo sem ter Sergio Moro por perto há quase quatro meses, o presidente Jair Bolsonaro acompanha com interesse o que acontece com o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, sobretudo as derrotas dele no Judiciário. Pensando em 2022, o chefe do Executivo entende que só tem a ganhar com os tropeços do antigo aliado, principalmente porque o ex-juiz é tido como um dos seus principais adversários para as próximas eleições. Dessa forma, o objetivo do Palácio do Planalto é fazer de tudo para inviabilizar a candidatura do ex-ministro.
A jogada do governo começou desde que Moro pediu demissão, no fim de abril. Segundo fontes palacianas, o Executivo tem mapeado os grupos que não toleram o ex-ministro, um deles, composto por integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Para Bolsonaro, a principal demonstração disso aconteceu na semana passada, quando a Segunda Turma da Corte decidiu retirar a delação do ex-ministro Antonio Palocci de uma ação que corre na Justiça contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por apontar parcialidade de Moro à época em que era juiz federal.
Mirando a reeleição, o núcleo mais próximo de Bolsonaro diz que o presidente está disposto a desgastar ao máximo a imagem de Moro e até da Lava-Jato, mesmo que o enfraquecimento do ex-ministro e da operação signifique a volta de Lula para o cenário político.
Na visão do mandatário, de acordo com aliados, seria até interessante o STF levantar a possibilidade de candidatura do petista com base em possíveis erros de Moro. Bolsonaro entende que pode sair fortalecido diante de uma eventual polarização do ex-ministro com o PT. Isso poderia trazer de volta para o seu colo os eleitores que se arrependeram de ter votado nele, mas não votam no PT de forma alguma.
O STF deu outra sinalização contra Moro que também agradou ao Planalto. No fim de julho, ao defender mudanças na legislação que trata sobre quarentena política a juízes que queiram se candidatar a cargos políticos, o presidente da Corte, Dias Toffoli, disse ser a favor de que o atual prazo de seis meses possa ser ampliado para oito anos. “Assim se evitaria de utilização da magistratura e do poder imparcial do juiz para fazer demagogia, aparecer para a opinião pública e depois se fazer candidato. Quem quer ser candidato, tem de deixar a magistratura, tem de deixar o Ministério Público. E há que haver um período de inelegibilidade, sim”, afirmou o magistrado, na ocasião, durante sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Caso as regras sejam alteradas e consigam atingir Moro, tirando-o da corrida presidencial, o caminho de Bolsonaro para a reeleição estaria pavimentado. Mesmo considerando a possibilidade de Lula concorrer em 2022, dizem assessores, o presidente seria o favorito, visto que nenhum nome da direita seria capaz de bater de frente com ele.
Diante disso, Bolsonaro está certo de que Moro é o único candidato que pode lhe roubar votos. A rivalidade entre os dois tem sido cada vez maior desde a conturbada saída dele do governo. Ambos trocaram farpas em diferentes ocasiões. A discussão mais recente aconteceu durante o último fim de semana, quando o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortos pela covid-19. Depois de o ex-ministro criticar a forma como o chefe do Executivo tem administrado a pandemia, o perfil oficial da Secretaria de Comunicação do governo rebateu a postagem, e Bolsonaro compartilhou uma das publicações feitas pela assessoria.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também atacou Moro: “Remunere melhor que escreve seus tweets, estão muito previsíveis e dão na cara o jogo armado com os demais sofisticados”, postou.
Análise
Especialistas acreditam que Bolsonaro quer apostar todas as fichas para desassociar, ao máximo, a imagem de Moro à do governo. Além do STF, a Procuradoria-Geral da República (PGR) demonstrou ser um problema para o ex-ministro desde que o procurador-geral da República, Augusto Aras, ordenou diligência para o compartilhamento de dados da Lava-Jato.
“Se as outras instituições, inclusive uma que estava dando aval para Moro fazer o que fez na Lava-Jato como juiz, começa a se voltar contra o próprio Moro, mostra que não há unanimidade nas decisões dele, muito menos unanimidade na figura dele”, disse o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais. “Se as pretensões de Bolsonaro se concretizarem, ele vai ter o argumento de que Moro foi vendido para ele como uma coisa, quando na realidade não era aquilo que se esperava. Assim, queimando a imagem do ex-ministro, pode conseguir pegar o antipetismo e o antimorismo.”
Para Geraldo Tadeu, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o eventual ressurgimento de Lula, que seria consequência do enfraquecimento de Moro, também é um fator que poderia garantir mais votos a Bolsonaro. “Isso fortalece a polarização e cria o fantasma da volta do PT, o que é útil ao presidente e à extrema direita”, observou.




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