Área e garimpo ilegal no Rio Mucajaí, Terra Indígena Yanomami Foto: Hutukara/Isa/Divulgação |
Associação Yanomami denuncia risco de contágio por coronavírus em região com forte presença de garimpeiros em Roraima
Região no Rio Mucajaí tem cinco comunidades que ficam a 300 metros de áreas onde há exploração e situação preocupa a Hutukara Associação Yanomami. Maior terra indígena do país, reserva Yanomami foi considerada a mais vulnerável ao coronavírus entre as regiões indígenas da Amazônia.
A Hutukara Associação Yanomami denunciou nesta quarta-feira (5), mais uma vez, o risco que índios da etnia correm de se infectar com o coronavírus. Agora, a preocupação é com moradores que vivem na região do Rio Mucajaí, onde há forte impacto da exploração ilegal de garimpeiros dentro da terra indígena.
Os novos relatos são de que na área a ameaça da Covid-19 é eminente. Na região do Rio Mucajaí vivem cerca de 307 indígenas Yanomami distribuídas em cinco comunidades.
Oficialmente há a confirmação de que 13 pessoas infectadas pelo coronavírus na localidade, apontada pela Hutukara como a terceira com maior extensão de área degradada pelo garimpo.
O número de infectados, no entanto, segundo a Hutukara, pode ser maior. A associação informou ter recebido o relato de que uma adolescente, de 14 anos, morreu com os sintomas da doença no início de junho. Depois, sete pessoas da família da menina foram removidos da região a Boa Vista e, na capital, todos testaram positivo para a Covid-19.
“Por causa disso [garimpo] a gente continua a pegar malária e por causa disso minha irmã ficou mal. Ela morreu. ‘Talvez seja malária!’ nós dissemos isso. E como não era isso [malária], aqui, vindo eu e minha filha para cá, vimos que afinal era essa doença [Covid-19], contou à Hutukara a irmã da adolescente, que também se infectou pelo vírus.
Até esta quarta-feira (5) o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) registrou 378 casos de indígenas infectados pelo coronavírus e quatro mortes. Desses, 227 estão dentro da Terra Yanomami e os demais em tratamento na Casa de Saúde Indígena (Casai), na capital.
Questionada se a morte da adolescente na região do Mucajaí foi contabilizada nos dados sobre a Covid-19, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) disse que "que não informa nomes, etnias ou localidades de pacientes com Covid-19".
“É cada dia mais necessário que as autoridades tomem medidas para tirar os garimpeiros que estão invadindo nossa terra e impedir que a Xawara [doença]continue se espalhando entre nós”.
O Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi-Y) acompanha a situação a reforçou que os vírus na região tem sido levado por garimpeiros.
"Nessa região tem muita presença de garimpeiro, é bem próximo as aldeias, aproximadamente 300 metros das comunidades. Então o vírus chegou através dos garimpeiros", afirmou Júnior Yanomami, presidente do Conselho.
O risco de contágio levado por garimpeiros já havia sido abordado em estudo elaborado pelo Instituto Socioambiental (Isa) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisa apontou que a Terra Yanomami era a mais vulnerável ao coronavírus entre as regiões indígenas da Amazônia.
No início de julho o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) determinou que o governo federal retirasse os garimpeiros da Terra Yanomami como forma de combate ao coronavírus.
A medida, no entanto, não foi cumprida e o Ministério Público Federal (MPF) recorreu para que fosse aplicada uma multa. Ainda não saiu uma nova decisão no processo.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares e fica entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, alvo de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro. A estimativa é que cerca de 20 mil garimpeiros estejam infiltrados no território.
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