Suposta ameaça de dossiês acelerou votação de impeachment de Witzel
O fantasma dos dossiês, nos últimos dias, voltou a assombrar a Assembleia e foi determinante para acelerar a votação do impeachment e fazer com o que o tema entrasse em pauta ontem. A princípio, o plenário só seria consultado na segunda quinzena de junho. Nos corredores do Palácio Tiradentes, deputados relataram terem sido ameaçados por um assessor especial de Wilson Witzel, lotado no gabinete do governador, caso votassem a favor do impeachment. Esse interlocutor teria se aproximado de Witzel durante a transição de governo e chegado a ocupar funções importantes nos gabinetes dos ex-chefes da Casa Civil André Moura e José Luís Zamith. Procurado, o governo estadual negou que atue na elaboração de dossiês contra deputados ou que tente interferir nas votações por meio de ameaças.
Um deputado, no entanto, garante que o assédio foi a gota d’água no cisma instituído entre o governo e a Casa e inviabilizou qualquer tentativa de apaziguamento político:
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— O Palácio Guanabara continua achando que a intimidação é o melhor caminho. Estão errados. Só vão complicar ainda mais a situação na Alerj. Essa pessoa que nos ameaça é um aliado do Tristão e reproduz o seu modus operandi — acusou, sem identificar, diferentemente do que aconteceu, em fevereiro deste ano, quando o próprio Ceciliano afirmou que o Legislativo era ameaçado com dossiês.
Votação foi um massacre
Na quarta-feira, como um rolo compressor, 69 deputados da Assembleia Legislativa do Rio — com exceção de um que não compareceu à sessão — votaram ontem, em plenário, pela abertura de um processo de impeachment contra o governador Wilson Witzel. A decisão quase unânime teve adesão até dos parlamentares do PSC, partido do governador, e juntou bolsonaristas e petistas.
Foi uma votação simbólica porque, pelo regimento interno da Casa, o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), poderia ter tomado a decisão sozinho, mas optou por dividir a responsabilidade com o parlamento. O estopim foram as denúncias de fraudes nas compras de respiradores e nas obras de hospitais de campanha durante a pandemia.
— Essa é uma oportunidade que a gente vai ter de trazer as explicações do governador. Voto sim para dar prosseguimento ao processo — afirmou Ceciliano.
Sob o mesmo argumento, de que seria uma chance de Witzel se defender das acusações de fraude na Saúde, até mesmo o deputado Bruno Dauaire, do PSC, que chegou a ser cotado para assumir a liderança do governo na semana passada, endossou a medida:
— O governador pode trazer informações importantes. Eu voto sim.
Desde que a relação entre Witzel e a Alerj foi azedando, 14 pedidos de impeachment foram apresentados à Mesa Diretora da Assembleia. O rompimento com o presidente Jair Bolsonaro também foi um importante divisor de águas, fazendo saltar do barco do governo a bancada de 12 deputados do PSL, a maior da Legislatura.
O pedido de impeachment aceito foi o dos deputados Luiz Paulo e Lucinha, ambos do PSDB, que acusam Witzel de crime de responsabilidade. Outros 13 foram arquivados. Os tucanos enumeram as seguintes suspeitas:
Compra de respiradores no combate ao coronavírus com suspeita de superfaturamento; construção dos hospitais de campanha, cuja licitação é investigada; suposto vínculo de Witzel com o empresário Mário Peixoto; parecer do TCE pela rejeição das contas de 2019 do governo Witzel; e Revogação da desqualificação da OS Unir Saúde, que seria ligada ao empresário Mário Peixoto e está sob suspeita do Ministério Público Federal.
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