Escolhida pelo presidente Michel Temer para comandar o Ministério do Trabalho, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) foi condenada em uma ação trabalhista a pagar R$ 60,4 mil a um ex-motorista de sua família que não teve assinada a carteira de trabalho.
De acordo com informações do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT1), que confirmou a condenação em segunda instância, o ex-funcionário deixou de receber gratificações como férias, aviso prévio. Além disso, ele tinha carga horária diária de 15 horas.
Até outubro passado, a dívida não havia sido paga. Foi feito um acordo de pagamento do valor em 18 parcelas, mas, devido ao atraso, a ministra teve sua conta bloqueada, com penhora de R$ 30 mil. Segundo o jornal O Dia, Cristiane Brasil sofreu novas penhoras no final de 2017, mas, apesar do salário de R$ 33 mil, a Justiça só encontrou R$ 700 em conta.
No processo, Cristiane Brasil alegou que o motorista realizava para ela trabalhos eventuais e que "não era nem nunca foi sem empregado". Já o motorista afirmou que trabalhou exclusivamente para a atual ministra e para os filhos dela de 2012 a 2014, entre 6h e 22h, levando as crianças a consultas médicas, escola e "baladas".
Em outro processo, que também tem um motorista como autor da ação judicial, a deputada se comprometeu a pagar R$ 14 mil em indenização, em parcelas de R$ 1 mil, além de assinar a carteira de trabalho do funcionário.
Cristiane Brasil: polêmicas e acusação no caminho da nova ministra do Trabalho
Com 44 anos, Cristiane é advogada, filha do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, e já foi vereadora no Rio de Janeiro por três mandatos. Votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e pelo arquivamento das denúncias contra Temer nas duas ocasiões em que o assunto foi debatido pelo Legislativo. Além disso, votou de maneira favorável à reforma trabalhista e à PEC do Teto.
Cristiane também é autora de um projeto de lei polêmico. Ela tentou regulamentar a roupa dos frequentadores do Congresso e o tamanho dos decotes utilizados, mas a iniciativa não vingou.
Os delatores da Odebrecht acusam a deputada federal de ter recebido R$ 200 mil como caixa dois durante seu período como vereadora, o que ela nega.
Quando anunciou a nomeação de sua filha, Roberto Jefferson chorou e afirmou tratar-se de um "resgate da família" após o mensalão. Em 2005, ele foi o pivô do escândalo que atingiu o então presidente Lula (PT) ao denunciar a compra de deputados federais. Chegou a ser preso, teve o mandato cassado mas está no regime aberto desde 2015.
Segundo Jefferson, ao ligar para a filha e falar sobre a possibilidade de assumir o ministério, ela afirmou: "pai, eu aceito".
Escolha e emoção
Temer aceitou na quarta-feira (3) o nome de Cristiane Brasil para assumir o Ministério do Trabalho. A indicação foi apresentada por Jefferson a Temer na tarde de quarta-feira, no Palácio do Jaburu, após reunião do partido. A nomeação foi confirmada pelo Planalto.
O nome dela surgiu após o impasse provocado com a indicação de Pedro Fernandes, que foi vetado pelo ex-presidente José Sarney sob alegação de que o parlamentar é alinhado ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), inimigo político da família Sarney.
"Eu vim discutir outros nomes, estávamos pensando em três [outros deputados]. Aí roda pra cá, roda pra lá. Então se falou: 'Roberto, e a Cristiane? Por que não?' Aí foi da cabeça do presidente: 'Ela é uma menina experimentada, foi secretária municipal em vários governos na cidade do Rio de Janeiro'. Eu falei: 'presidente, aí o senhor meu surpreende, vou ter que consultar", afirmou Roberto Jefferson.
Segundo ele, após a consulta e a aceitação, Cristiane Brasil concordou em não disputar as eleições deste ano. "Ela ficará ministra até o final [do governo de Temer]", afirmou. Roberto Jefferson disse ainda que o líder do partido na Câmara, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), também concordou com a nomeação e disse que ela tem a "confiança" da bancada.
Durante entrevista a jornalistas em que anunciou o nome da filha para o cargo, Roberto Jefferson, que foi protagonista e o primeiro delator do mensalão há pouco mais de dez anos, se disse emocionado. "É um resgate da imagem, da família. Depois do que aconteceu, mas já passou. Fico satisfeito", afirmou, com a voz embargada.
Suplente
O ex-vereador de Campos dos Goytacazes Nelson Nahim (PSD-RJ) é o suplente de Cristiane Brasil na Câmara dos Deputados. Irmão do ex-governador Anthony Garotinho, com quem diz estar rompido desde 2010, Nahim já foi condenado a 12 anos de prisão por estupro de vulnerável. Ele foi preso duas vezes por envolvimento em exploração sexual de menores, mas foi solto em outubro após obter um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal.
Deixe sua opinião