Mais pesquisas, consumo consciente e
troca de marcas são apenas alguns dos diagnósticos citados pelo especialista ao
Brasil Econômico.
Impulsionado pela crise econômica do
País, consumidor com orçamento familiar mais apertado está menos preso às
marcas, e com foco maior na funcionalidade ofertada pelo produto ou serviço.
De acordo com o especialista em marketing e cofundador do
Movimento Ímpar, Raoni Pereira, a diminuição da renda familiar do consumidor também favoreceu a ascensão de novas
marcas, de preços mais baixos e a acentuação de marcas próprias do varejo,
principalmente de produtos usados no dia a dia, como xampu e detergente.
Embora, o especialista avalie que essas novas marcas tenham
chamado a atenção da clientela, muitas não conseguiram se manter no mercado
porque não entregaram a qualidade mínima exigida pelo público. “Em muitos casos
o cliente acaba preferindo pagar mais caro por um produto de qualidade
superior, ao mesmo tempo em que marcas que cobram um preço maior, foram
substituídas por outras mais baratas, mas com qualidade parecida”, diz Pereira,
que ainda ressalta a fragilidade no modelo de negócio como motivo de queda
desses produtos novos.
Quando questionado se há
categorias onde as pessoas oferecem maior resistência para trocar de marca , o especialista aponta que produtos de
bens duráveis - como eletrodomésticos e carros - costumam ter um público mais
fiel, visto que o cliente busca avaliar com cautela o histórico da empresa, a
assistência técnica, além da própria experiência com a marca.
Diagnóstico
A não hesitação em trocar
de marcas – na maioria das categorias - é apenas mais um dos sintomas do
cenário de crise dos últimos anos. Maior cautela e mais critérios nas decisões
de compra também fazem parte do pacote de mudanças de hábitos de consumo.
Pereira enfatiza que, embora
seja difícil traçar comportamentos padrões devido à diversidade do País, é
possível apontar algumas tendências. Ele usou como exemplo o fato de que apenas
16% do consumidor das classes C, D e E reservam parte de sua economia somado ao
fato de que as pessoas têm evitado compromissos financeiros de longo prazo, e
começaram a cortar serviços considerados supérfluos para adquirir hábitos mais
sustentáveis – tanto ecologicamente quanto financeiramente.
“Até mesmo as classes sociais
menos afetadas, de maior poder aquisitivo, estão começando a mudar seus hábitos
e valorizar mais o dinheiro. Nesse cenário, empresas com modelos inovadores que
valorizam a economia e comparação de preço tiveram crescimento significativo. O
modelo de cashback (onde o consumidor pode receber parte do valor gasto na compra)
vem crescendo”, avalia.
Entre outras mudanças dos hábitos de consumo pode-se citar a popularização de serviços
de economia compartilhada, como caronas e aluguéis de quartos, assim como
brechós e a venda de produtos já usados voltaram a ter importância.
Já em relação ao setor de serviços,
que apresentou queda de 5% no faturamento em 2016, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o especialista aponta que o
cinema, por exemplo, foi trocado pelo filme na TV ou Netflix. O passeio com os
amigos ou família foi substituído pelas reuniões em casa.
Questionamentos
Escândalos como o da Operação
Carne Fraca e as denúncias referentes às lojas varejistas que utilizam mão de
obra análoga à escrava têm feito com que as pessoas também pesquisem sobre a
produção dos produtos para seu consumo, visando valores sociais e também da
postura das empresas.
Em relação ao selo verde,
Pereira lembra que esse símbolo deixou – aos poucos – de ser um diferencial das
marcas, uma vez que o público entendeu o comportamento como obrigatório, sem
necessidade de um pagamento “plus” pela postura.
Projeções
Além de o brasileiro estar
pesquisando mais, levantamentos apontam que na hora de comprar o cliente está
optando pelas compras online e que há uma tendência – ainda tímida – em compras
de pequenos produtores e maior valorização do que é feito localmente. “Esse
consumo mais consciente e mais próximo do produtor tende a se tornar mais comum
e um reflexo disso é a popularização das feiras livres e cooperativas”, avalia
Pereira.
Até mesmo as marcas que cobram
mais caro por seus produtos vêm apresentando mudanças e descobrindo novos
nichos fora do eixo Rio – São Paulo. Embora mais de 90% das vendas do mercado
de moda de luxo seren feitas em lojas físicas, por exemplo, as compras via
internet têm aumentado, trazendo crescimentos significativos às empresas com
foco neste consumidor. E você, mudou quais outros hábitos perante a crise?
*Com edição de Flávia Denone
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