Alex Silva/Estadão Jogando como centroavante, o presidente Bolsonaro recebeu passe de Wiliam Batoré, pela direita, e tocou de esquerda para o fundo das redes. |
O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira, 28, que o Brasil não aguenta mais um lockdown em razão da pandemia da covid-19.
O presidente fez a declaração depois de participar de um jogo de futebol em Santos, uma das 19 cidades paulistas que descumpriram o decreto do governador João Doria (PSDB) que determina medidas restritivas.
Depois da partida, Bolsonaro parou para falar com jornalistas, disse que todos estavam de máscara, menos ele, e falou que as pessoas não podem se esconder no vírus. "Não adianta a gente se esconder do vírus. Temos que ter cuidado com os idosos e quem tem comorbidades. Este vírus vai ficar entre nós a vida toda. Não aguentamos mais um lockdown, mais medidas restritivas. Quebra a economia. Não temos mais capacidade de nos endividar", disse o presidente. "Sei que a vida não tem preço e lamento as mortes. Mas não precisamos ficar com este pavor todo", concluiu.
Sobre a vacina, disse que assinou "um cheque de R$ 20 bilhões". "Tem um monte de urubu de olho nele. Ou você acha que todo mundo está de boa intenção?" Ele aproveitou a deixa para criticar, mais uma vez, Doria: "Aqui tem um presidente que não tem medo da verdade, não está fazendo demagogia, não está com máscara no estúdio e quando está em Miami está sem máscara. É um presidente diferente, que não está preocupado com 2022. 2022 é problema do eleitor."
Indagado por repórteres sobre a manutenção do auxílio emergencial no ano que vem, Bolsonaro repetiu: "Estamos no limite da capacidade de endividamento", afirmou. "O maior auxílio que posso dar para o povo é trabalho. Mas aí quando falo em CLT me criticam. Vai ser patrão no Brasil. Não é fácil ser patrão no Brasil."
O presidente citou, em tom elogioso, as pessoas que foram às ruas e se negaram a cumprir medidas restritivas em Fortaleza (CE), Manaus (AM) e Búzios (RJ).
Bolsonaro participou do jogo beneficente "Natal Sem Fome", promovido há 15 anos pelo ex-jogador Narciso, do Santos, no estádio da Vila Belmiro. Ele jogou pouco mais de cinco minutos e marcou um gol. Jogando como centroavante, recebeu passe de Wiliam Batoré, pela direita, e tocou de esquerda para o fundo das redes. A defesa adversária ficou parada esperando um impedimento que não houve – o presidente estava atrás da linha da bola. O técnico do time foi o ex-jogador Clodoaldo, do Santos e da seleção brasileira.
Um jornalista fez uma comparação entre a jogada e a importância do Centrão, grupo de partidos que sustenta Bolsonaro na Câmara, e o presidente respondeu. "Se eu não tiver apoio de algum deles não tenho como sonhar aprovar uma proposta de emenda à Constituição e quem bota parlamentar em Brasilia são vocês. Eu fui do Centrão no passado. Fui do PP, do PTB, PSC. Então essa história de querer genericamente desqualificar parlamentares não é por aí", disse. O presidente defendeu o bloco alvo de denúncias de corrupção. "É a mesma coisa do time do Santos. Se um ou outro joga mal, não posso falar mal do time todo", afirmou.
Indagado sobre a disputa pela presidência da Câmara, em que Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo Centrão e pelo Planalto, vai disputar com um nome do grupo de Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro disse que vai "cumprimentar quem vencer".
O presidente também aproveitou o ambiente futebolístico para reclamar das críticas pelo uso de palavras racistas. Ele disse que no vestiário, antes do jogo, Clodoaldo contou que Pelé era chamado de "Negão" pelos colegas e isso era normal. "A gente não pode mais fazer brincadeira no Brasil. Tudo é preconceito, racismo. Ninguém está querendo desqualificar ninguém mas nós fomos acostumados a nos tratar dessa maneira", afirmou o presidente.
Ao final da entrevista, ele foi questionado sobre qual sua mensagem de fim de ano ao povo brasileiro: "Mensagem? É do coração. Paz, amor, tranquilidade. Vamos lá, pô! Essa vida é uma só."
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